Dando sequência à nossa árdua tarefa de mostrar aos brasileiros a boa BD que não circulou em nosso país, falo hoje a respeito de uma figura do universo franco-belga, sobre a qual sempre tive vontade de escrever algumas palavras. Chegou a hora!
Que não reparem, aqueles que estão acostumados a temas mais comuns do universo dos quadrinhos, mas o site Tujaviu vai na direção contrária a de nosso mercado editorial de HQs, desbravando justamente aqueles títulos europeus mais sombrios. E não é que começam a prestar atenção às nossas peculiares matérias? Isso significa que o trabalho de formiguinha está dando certo!
Completamente desconhecido no Brasil, o Comissário San-Antonio teve sua origem em uma série de romances policiais de Frédéric Dard, que escreveu seus livros sob o pseudônimo de San-Antonio. No total, foram publicados 175 volumes, no período entre 1949 e 2001.
A trajetória do personagem passou também por uma tira em quadrinhos sem balões, no Jornal France Soir, onde o texto era disposto exatamente abaixo de cada imagem, com argumento de Roger Mallat e arte de Henry Blanc. As Investigações do Comissário San-Antonio nesse formato alcançaram um sucesso extraordinário, entre 1963 a 1975, sendo mais tarde reunidas parcialmente em um álbum da editora Vent’s D’Ouest, intitulado San-Antonio Blanc, de 1995.
Finalmente, sete outras histórias do herói HQs saíram nos anos 1970, produzidas pelos Estúdios Henri Desclez, com roteiro de Patrice Dard e desenhos de Franz Drappier, apresentando a marca da Fleuve Noire. Foram elas: Olé ! San-Antonio (1972), San-Antonio en Écosse (1972), San-Antonio fait un tour (1973), San-Antonio chez les Grecs (1973), Marie-Marie en Tyrannie (1974) e L’histoire de France de Marie-Marie (1974). Dos todos, apenas o segundo e o terceiro chegaram a Portugal, em 1984, através da Edinter.
Os personagens principais dessa saga são o próprio e canastrão Comissário San-Antonio, o beberrão e comilão Inspetor Principal Bérurier, a arteira Marie-Marie (sobrinha de Bérurier), Le Vieux, Chefe de Polícia (que é a cara do Professor Xavier dos X-Men) e o Inspetor Pinaud. Ainda existem, com menor importância, Berthe, mulher de Béurier e Alfred, cabeleireiro que é amigo da família.
A única HQ que li da franquia no original em francês foi San-Antonio na Grécia. Nessa banda desenhada, a escultura Victoire de Samothrace, que inicialmente pensava-se ter sido roubada do Museu do Louvre e substituída por uma réplica de gesso, foi na verdade emprestada pelo famoso museu parisiense à Grécia, numa operação sigilosa, por ocasião das festas de descoroamento do país. O valioso objeto viaja de navio, escoltado por San-Antonio, mas é roubada no meio do trajeto. Béurier e Pinaud chegam de helicóptero para ajudar, enquanto Marie-Marie já se encontra clandestinamente a bordo. A estátua trocará de mão entre dois grupos de bandidos, ao mesmo tempo em que nossos heróis viverão uma divertida e atrapalhada aventura em Antenas.
Humor, gags, um belo traço caricato e até uma citação a Goscinny, conforme foto abaixo, estão presentes nesse quadrinho que tem um herói detetive com cara de ator francês dos anos 1970 e que não dispensa um cigarro. Ele, inclusive, aparece fumando na vinheta de capa de cada álbum, fato inimaginável hoje em dia, se levarmos em conta as inúmeras campanhas mundiais que são realizadas contra o tabaco.
Apesar do título da BD levar o nome do Comissário San-Antonio, as passagens mais engraçadas dos enredos acontecem por conta de Béurier e de Marie-Marie. É essa dupla do barulho que aparece em todas as capas.
Se tivesse que escolher entre os dois desenhistas que deram vida a San-Antonio nos quadrinhos, ficaria declaradamente com Henry Blanc, apesar do artista nunca ter usado balões para as falas de seus personagens!
Por PH.