Uma das grandes surpresas em 2016 foi a chegada de uma ótima seleção de HQs de Jonathan a Portugal, editada pela ASA/Público, o que veio a reparar parte de uma inaceitável injustiça com uma das mais belas franquias da BD europeia.
Criado pelo suíço Cosey (Bernard Cosendai), um discípulo do estilo de Derib, desenhista de Yakari, Jonathan começou a aparecer em 1975 no Jornal Tintin da Bélgica, semanário em quadrinhos que editaria nove histórias da saga até 1982.
Enquanto isso, os álbuns do personagem iriam saindo também pelas Éditions Du Lombard, em formato de álbum, a partir de 1977. Até agora, 16 títulos foram publicados, sendo o último, datado de 2013.
Jonathan é uma franquia em quadrinhos bem mais intimista e adulta do que aquelas com as quais conviveu no passado no Jornal Tintin. Ela é carregada de sentimento, de profundidade, de belas e exóticas paisagens de questões existenciais, revelando as experiências pessoais em viagens e gosto pela arte do autor. É como se tivesse feito um relato quase autobiográfico, incluindo suas próprias no rosto do personagem.
Essa série tem como pano de fundo a situação do Tibete, de tradição profundamente budista, e que reivindica a criação de um estado próprio, numa região dominada pela China.
10 títulos da franquia chegaram às mãos do leitor português, em capa mole, ao preço de 5,50€ cada. Foram eles: Lembra-te Jonathan… (1975), E a Montanha Cantará para Ti (1976), Descalça sobre os rododendros (1977), O Berço de Bodisatva (1978), O Berço de Bodisatva (1978), O Espaço Azul Entre as Nuvens (1978), Douniacha, Há Quanto Tempo… (1979), Kate (1980), Neal e Sylvester (1982), Atsuko (2011) e Aquela que Foi (2013).
A trama dessa coleção se passa basicamente no gelado Himalaia, bem nos confins do Nepal e do Tibete, onde Jonathan vaga em busca da sua memória perdida, fugindo de uma clínica psiquiátrica. Embora não tenha ideia de quem é ou do que faz ali, algo o direciona às misteriosas e encantadoras terras do Tibete, rumo ao Himalaia, numa desafiadora e penosa jornada que será repleta de incômodos questionamentos e de recordações indesejáveis. Nesse processo de autoconhecimento, Jonathan terá contato com diferentes culturas e povos, o que o levará a inúmeras descobertas.
É bom lembrar que o herói já teve várias HQs que desfilaram pelas páginas do Tintin português e que chegou a ter duas outras histórias publicadas pela mesma parceria Asa/Público num passado recente.
Eu mesmo, tenho alguma coisa aqui de Jonathan no meu acervo particular. Boa parte está em francês, proveniente das Éditions Du Lombard.
Recentemente, conferi Descalça sob os Rododendros, que narra o momento em que Jonathan encontra Drolma, uma linda menina selvagem de nove anos que passará a fazer parte de sua vida e que trará a ele um incrível sentimento de paternidade. Essa é uma das minhas aventuras preferidas desse herói único, que teve sequência em O Berço de Bodisatva, minha leitura atual.
Trata-se de uma BD que nos transmite muita paz!
Pena que tudo isso seja desconhecido no Brasil!
Por PH.