É incrível, como artistas no Velho Continente se dedicam a criar obras em quadrinhos que falam sobre o Brasil! Foi assim recentemente com Redentor, de Stephen Desberg e Miguel Lalor. São HQs maravilhosas, com desenhos incríveis, e solenemente ignoradas pelos editores daqui. Mas o Tujaviu aqui está para reparar, em parte, todo este desprezo pelo quadrinho europeu de qualidade e que flerta com nosso mundo.
Hoje, falo do primeiro tomo de RIO, intitulado Dieu pour tous, álbum de Louise Garcia (texto) Corentin Rouge (arte). A publicação leva a marca das Éditions Glénat e saiu no dia 20 de abril de 2016. Tem formato de 24 x 32 cm, 64 páginas, capa dura e preço de 14.95 €. Seu idioma é o francês.
Rubeus e Nina nasceram numa favela do Rio de Janeiro. Eles são entregues à própria sorte, no dia em que sua mãe é assassinada por Jonas, policial corrupto, do qual a mulher era informante e amante. Eles são obrigados a fugir de seu ambiente natal para escapar do malvado tira que deu fim à vida de sua progenitora. Recolhidos por Bakar, um garoto esperto, eles entram para uma gangue de crianças de rua. Entre pobreza e violência, a malandragem é a única forma de sobreviverem, embora exista a possibilidade de serem adotados por uma família rica! Assombrado pela morte da mãe, e responsável por sua jovem irmã de apenas quatro anos, Rubeus passará da miséria das comunidades e das ruas à alta burguesia, e descobrirá as diferentes nuances de uma sociedade heterogênea, brutal e desigual. Através da jornada caótica desse menino, Rio traça um retrato atual do Brasil, na melhor tradição do filme Cidade de Deus.
Apesar de ser difícil para um estrangeiro entender a complexidade das favelas cariocas e das injustiças sociais que assolam o Brasil, me parece que a dupla de autores em questão conseguiu realizar uma obra que não passa muito distante de nossa realidade. Não é à toa, pois Corentin chegou a morar em nosso país, onde realizou uma belíssima documentação fotográfica e encontrou muitas pessoas que o orientaram nesta empreitada. Por outro lado, Louise cresceu aqui e conhece melhor do que ninguém o nosso dia a dia.
Segundo Corentin, falando no vídeo postado abaixo, a série está programada para ter quatro álbuns, que passarão por diversos meios sociais, tocando na questão da polícia, da política e até da Magia Negra.
Corentin Rouge, fã do trabalho de Jean Giraud em Blueberry, desenvolve um método que segue os passos estéticos narrativos de seu famoso mestre.
Assim que ler a BD, falo mais sobre ela.
Até lá.
PH.
Tem tudo haver com a nossa realidade.
Corentin não é só fã de Blueberry. O pai dele, Michel Rouge, foi desenhista da série Marshall Blueberry, um spin-off de vida curta!
Aliás, o pai dele deveria ser muito fã da série Corentin de Paul Cuvelier…