Desde que compro as revolucionárias Graphic MSP, que trazem releituras de personagens criados por Mauricio de Sousa, tenho que confessar que PAPA-CAPIM: NOITE BRANCA foi disparadamente a melhor. Claro que isso reflete a minha opinião minha, mas não poderia deixar de compartilhá-la aqui.
Roteirizada por Marcela Godoy e desenhada por Renato Guedes, esta HQ inova ao misturar Terror às lendas indígenas, de uma forma que eu nunca havia visto antes. Assim, a mata da Amazônia, os índios, os animais e as lendas que lá habitam acabam virando cenário e personagens de uma fantástica e assustadora trama, conduzida por PAPA-CAPIM e seus amigos.
O primeiro desta franquia a surgir foi o próprio indiozinho. Ele deu as caras em 1963 na Folhinha de São Paulo. Mais tarde, Mauricio criaria a figura de Cafuné, em 1966, no mesmo jornal. Jurema só estrearia no ano de 1982, nas páginas do número três da revista Chico Bento.
Toda a trama de PAPA-CAPIM: NOITE BRANCA se desenvolve num clima completamente paranormal. PAPA-CAPIM encontra um passarinho morto, pertencente a uma espécie que possuiu exatamente este nome, e tem uma visão de que ele foi morto por uma misteriosa névoa. Achando que isto é um mal presságio, tenta avisar o chefe de sua tribo, mas devido ao garoto ter pouca idade e ainda não ser um guerreiro de fato, suas palavras não são ouvidas pelo líder. Depois, enquanto dorme, é advertido num pesadelo por sua “amiga” Jurema de que a aldeia deles corre o sério risco de ser invadida por uma legião de monstros conhecidos como Noite Branca. Somente após este fantástico relato de PAPA-CAPIM, o pajé começa realmente a acreditar na sua história. Segundo o ancião, duas noites antes da invasão, estas terríveis criaturas dão um jeito de informar a algum guerreiro que estão por vir. Somente este será poupado da anunciada tragédia, embora ninguém imaginasse que CAPIM pudesse ser o escolhido. Começa então a grande aventura do menino para defender seu povo! Na empreitada, contará com a ajuda de Honorato, Filho de Cobra-Grande, e ainda terá que salvar o amigo Cafuné, que aparentemente se transformou em uma espécie de zumbi.
O argumento não teria tudo para virar um filme de Horror de Holywood? Poderia, mas tudo se passa qui mesmo no Brasil, num universo selvagem que nos é bastante familiar. Noite Branca, de acordo com Marcela Godoy, é uma alusão à chegada dos brancos colonizadores e nesta Graphic MSP, funciona como uma mistura entre o estereótipo do vampiro europeu eternizado pelo cinema e assustadores canibais do folclore nacional.
Os sensacionais desenhos de Renato Guedes, dono de inúmeros trabalhos editados por Marvel e DC, estão nesta HQ bem mais para o estilo do quadrinho europeu. Trata-se de uma arte impregnada de beleza indescritível, incrivelmente detalhada e colorida com o coração. Ela nos transporta espiritualmente para o mais importante pulmão vivo de nosso planeta, tão ameaçado de desaparecer por obra de mãos humanas.
O álbum tem 82 páginas e custa R$32.90 em sua versão em capa dura. Já na opção brochura, sai a R$ 21,90.
Que HQ absurdamente verde e espetacular!
Por PH.
Encantada pela arte e beleza da capa….