Desde pequeno, influenciado por histórias contadas por seu avô, o desenhista Jacques Tardi, decidiu transpor para os quadrinhos, o ambiente hostil da Primeira Grande Guerra Mundial, conflito em que militares e civis passaram por situações degradantes no front da batalha. O corrido entre 28 de Julho de 1914 e 11 de Novembro de 1918, este embate de grandes proporções envolveu o Império Britânico, França, Império Russo, Estados Unidos, Alemanha, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano, Itália, França e uma série de outros países que, mesmo de forma não direta, acabaram contribuindo para o agravamento do quadro. A Primeira Guerra mudou de forma radical o mapa geopolítico da Europa e do Oriente Médio, após levar mais de vinte milhões de pessoas à morte. O uso sistemático de arame farpado, metralhadoras e gases tóxicos aumentou o poder mortífero desta guerra, em relação a outras ocorridas anteriormente. Foram as trincheiras, abrigos escavados a céu aberto e posteriormente cobertos, a principal característica do conflito. A situação nestes locais era desumana. No lugar de banheiros, eram feitos buracos no chão, que funcionavam como latrinas, sem a menor higiene. Por conta disso, apareciam pragas como piolhos e carrapatos. Como os cadáveres dos soldados combatentes, raramente eram retirados daquela área, moscas e larvas surgiam, ajudando no aparecimento de doenças. Entre os males que acometiam os personagens deste lamentável drama estava a “Febre de Trincheira”, cujos sintomas eram fortes dores pelo corpo e febre alta, além do “Pé de Trincheira”, um tipo de micose que poderia resultar em gangrena e amputação de membros. Tudo isso era piorado pela deficiente alimentação, à base de enlatados. Quando chovia, o caos se instalava nas trincheiras, invadidas por um terrível lamaçal. Para realizar a difícil tarefa de descrever estes acontecimentos reais, em forma de HQ, Tardi baseou-se em uma extensa bibliografia e filmografia (que vai desde Charles Chaplin até Ernest Hemingway), além de ter contado com ajuda do documentarista, Jean-Pierre Verney. Foi este último que ajudou a tornar cada quadro do álbum, uma detalhada e fiel representação do que realmente aconteceu nesta insensata catástrofe bélica. A intenção de Tardi não era a de relatar uma história cheia de heróis e aventuras, e sim, ilustrar um momento doloroso e traumático da humanidade. Tudo isto pode ser conferido em “Era a “Guerra de Trincheiras”, luxuoso álbum em quadrinhos, que a mineira editora Nemo está lançando no país. Publicado originalmente pelo selo francês Casterman, em 1993, o livro chega agora às prateleiras das livrarias brasileiras. Com tradução de Ana Ban, a publicação tem capa dura e possui formato 22,5 x 29,5 cm. São 128 páginas ilustradas em preto, branco e tons de cinza. “Era a Guerra de Trincheiras” é fruto do talento inegável do artista Jacques Tardi, nascido na França em 1946. Ele começou sua carreira, como quadrinista, no final da década de 1960. É dele também, a autoria da série Adèle Blanc Sec, editada em Portugal, nos anos 1980, pela Livaria Bertrand. Ganhador dos prêmios no Eisner Awards, de Melhor Trabalho Baseado em Fatos Reais e Melhor Publicação Americana de Material Estrangeiro, “Era a Guerra de Trincheiras” está sendo vendido, apenas em livrarias, ao preço de R$ 49,00. Vale cada centavo pago pela obra. Trata-se de um tipo de revista em quadrinhos de extrema qualidade gráfica, que chega para mudar o nosso cenário editorial de gibis, de forma irreversível. Quando os leitores se acostumarem a este tipo de produto, dificilmente deverão deixar de tê-lo em sua biblioteca. A imagem que ilustra a matéria corresponde à página nove do livro.
Por PH, baseado em release fornecido pelo editor.