Jacques Tardi é bastante conhecido no mundo dos quadrinhos franco-belgas, por personagens como Nestor Burma e Adèle Blanc-Sec. Ele também foi o responsável por “Le Cri du Peuple”, obra composta por quatro volumes, editados no começo dos anos 2000. Nestes tempos, Tardi já havia se firmado como um grande artista da Banda Desenhada. Mas foi em 1993, um pouco antes desse álbum, que ele publicou pela Editora Casterman de Paris, uma de suas mais tocantes histórias. A assustadora narrativa se passava em verdadeiros buracos, nos quais militares se escondiam, amontoados de forma desumana. Estamos falando de trincheira, termo que define qualquer tipo de escavação linear no solo. Do ponto de vista militar, é um tipo de fortificação de campanha, escondida sob a terra. Funciona como um abrigo para soldados se defenderem do inimigo, permitindo também a circulação de tropas. As trincheiras são cavadas ao ar livre, podendo ser cobertas ou não. Apesar de existirem desde a antiguidade, foram largamente utilizadas durante a Primeira Guerra Mundial, tornando-se o símbolo deste confronto. Era preciso ficar protegido a todo custo, do fogo de possantes metralhadoras e outros tipos de armas mortais, que começavam a ganhar terreno nos campos de batalha do começo do século XX. Em “C’était la Guerre des Tranchées”, desenhado e escrito por Tardi, não existem heróis, mas apenas homens enfrentando o horror. Em pouco mais de uma centena de dramáticas páginas, descobrimos o cotidiano, as angústias e a história por trás de bravos anônimos que fizeram história. Tudo isto e muito mais, descrito através de um roteiro muito bem documentado. Para tanto, o autor fez diversas pesquisas sobre os lugares reais nos quais evoluiu a batalha de trincheiras. Tardi também investigou os armamentos usados, uniformes dos combatentes e cartas trocadas entre estes e seus parentes, distantes da área do conflito. O resultado é um registro fiel do que ocorreu no mundo, entre 1914 e 1918. Mesmo assim, “C’était la Guerre des Tranchées” não é exatamente uma obra histórica, já que o livro trata antes de tudo, dos dramas existenciais vividos por seres humanos, numa situação extrema. Esta publicação, inclusive, vai bem além dos números e estatísticas, fazendo com que o leitor tenha consciência do que foi o horror da Primeira Guerra Mundial. Execuções em massa, nacionalismo, patriotismo, confinamento nas trincheiras, falta total de higiene, escassez de comida, frio, privação do sono, massacre de populações inteiras de civis, envio de homens das colônias africanas e asiáticas para o front e mutilações são alguns dos temas mostrados neste fantástico drama da HQ.”C’était la Guerre des Tranchées” exibe todas as tripas de um nefasto passado da humanidade, em impressionantes imagens preto e branco, servindo para que reflitamos bastante sobre a inutilidade e o absurdo da guerra. A boa notícia é que o álbum está nos planos da nova e mineira Editora Nemo, para ser lançado em breve no Brasil. Vamos torcer para que aconteça de fato. Será uma bela oportunidade para que todos conheçam este importante clássico de Jacques Tardi. “C’était la Guerre des Tranchées” não é um simples gibi. É uma fotografia da vida como ela já foi um dia, num de seus mais devastadores momentos. Abaixo, segue um curto vídeo com um trecho de um documentário que achamos no Youtube, falando da Guerra de Trincheiras. Está em francês, mas as imagens falam por si só.
Por PH.r PH.
Não conhecia esta obra. Essa matéria nos faz lembrar o quanto negligenciamos o quadrinho europeu e off-USA, sendo que a verdadeira viagem fantástica está lá do outro lado do Atlântico…
Ótimo texto PH! Nem desconfiava que essas coisas acontecessem. Sequer consigo imaginar o que esses homens passaram me deixou emocionada com essa matéria você e como um livro de muitas historia hein! Acho fantástica a diversidade das suas matérias isso que me encanta e seduz cada dia mais e muito bom compartilhar desse seu conhecimento! Parabéns e obrigada pela dica!