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Com trama também se passando na África, “Spirou: O Chifre do Rinoceronte” é mais politicamente correto do que Tintin no Congo

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Escrito por PH

sem-tivbvbcvbtulo-1-copiaE não é que a editora SESI-SP realiza algo inédito no Brasil? Em pouco menos de seis meses, já lançou seis álbuns de Spirou, célebre personagem criado por Rob-Vel.

Lembro que em mais de quarenta anos de publicação de quadrinhos europeus no país, apenas cinco histórias do herói chegaram às bancas ou livrarias do país, através da Vecchi e Manole.

Pelo andar da carruagem, logo teremos as mais de cinquenta HQs de Spirou, em português, à disposição dos leitores brasileiros, sem aquele medo constante de ver sua série favorita da banda desenhada franco-belga ser cancelada do dia para noite, como sempre acontece por aqui.

O Chifre do Rinoceronte ((La Corne du Rhinocéros) é mais uma maravilha da SESI-SP que chega ao mercado, vinda das mãos talentosas de André Franquin, o mais venerado desenhista, quando o assunto é Spirou.

É uma das melhores tramas que já li dessa franquia, contando com a estreia da personagem Seccotine, uma periodista que faz uma bela participação neste título. A introdução da personagem como profissional de um jornal, reflete também um olhar respeitoso de Franquin sobre o feminino. Ela tem uma clara função de representar uma jovem mulher, independente e jornalista nos anos 1950. Mulheres quase não apareciam nos roteiros de Hergé.

Nesta aventura, Fantásio mete seu amigo Spirou numa encrenca, ao convidá-lo para participar de um roubo fictício a uma loja de departamentos, ação que será a base para um artigo igualmente falso do jornal em que Fantásio trabalha. Durante a ação, acabam se metendo num caso criminal real. Malfeitores, a serviço da máfia automobilística, roubam o projeto de um carro revolucionário da empresa Turbot.

Martin, que é um dos pilotos de teste do bólido, consegue fugir com um microfilme que contém a parte mais importante desses planos e vai para África. Lá, o confia ao rei dos Walkukus, para que este o esconda num local seguro. O líder tribal resolve então fazer um furo no chifre de um Rinoceronte e introduzir lá dentro. Por causa disso, Spirou e Fantásio terão que gastar um enorme tempo para localizar os tão cobiçados planos secretos, verificando, um por um, o chifre de cada animal na selva.

De maneira madura, Franquin encontrou um jeito de fazer com que essa procura não ferisse  ou matasse qualquer dos animais examinados por nossos heróis, revelando uma consciência ecológica, por parte do autor, que está anos-luz à frente do tempo em que a HQ foi editada, mais precisamente, 1956.

O mesmo não se pode dizer de Tintin no Congo, com narrativa também se passando no Continente Africano, em que se perde a conta dos animais que são mortos barbaramente pelo repórter, nas pranchas desta HQ. Até Milu arranca, sem piedade, parte do rabo de um leão. O auge da carnificina acontece, quando o jornalista mata um Rinoceronte com dinamite, apenas pelo prazer de caçá-lo como um troféu!

Mesmo assim, apesar de amar Tintin, não pude deixar de fazer este paralelo entre essas duas fantásticas obras da BD europeia. O Chifre do Rinoceronte é bem mais politicamente correto do que Tintin no Congo. Não há dúvida! Como a aventura africana de Tintin é de 1931, dá para dar um desconto a Hergé!

Por PH.

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Sobre o Autor

PH

É ex-locutor do TOP TV da Record e radialista. Também produz a série Caçador de Coleções e coleciona HQs europeias, nacionais e quadrinhos underground

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