Quadrinhos

Hergé e Escher são homenageados no mais recente álbum de “Harry Dickson”

Escrito por PH

Untitled-1Harry Dickson é um personagem de uma série holandesa de livros, recriado pelo belga Jean Ray (Raymond Jean Marie De Kremee). Trata-se de uma espécie de detetive, no melhor estilo de Sherlock Holmes. O herói já teve pelo menos três diferentes adaptações para os quadrinhos. Uma dessas, a mais Ligne Claire de todas, é produzida por Philippe Chapelle Zanon (desenhos) e Vanderhaeghe (texto). A dupla publicou a aventura de partida para a franquia em 1996.

Após um intervalo na confecção dos álbuns, que já durava desde 2005, voltaram em agosto de 2014 com seu o nono tomo. A edição tem a marca da ART & BD. Até então, os outros volumes haviam sido editados pela Dargaud. Intitulada Les Gardiens du Gouffre (Os Guardiões do Abismo), a HQ tem capa dura e preço de 11, 99 euros. Desta vez, numa caçada alucinante, Dickson e seu fiel amigo Tom Wills viajarão para o topo gelado da Cordilheira dos Andes, passando pelos perigos da Floresta Amazônica, numa fantástica aventura Ligne Claire que remete a Blake e Mortimer. Lendo o álbum, flagrei duas referências importantes dos autores à obra de conhecidos artistas. Uma foi feita a Hergé, enquanto  a outra foi direcionada a duas famosas figuras do mundo das artes.

A primeira alusão importante deste quadrinho, se referindo a outros trabalhos, tem relação com um personagem das aventuras de Tintin. Trata-se do General Alcazar. Em Les Gardiens du Gouffre, ele é representado pelo General Zalhazar. Ele dará apoio logístico para que Dickson se meta na floresta, com o objetivo de resgatar Sir Campbell, um explorador britânico que se encontra prisioneiro de um grupo rival de Zalhazar. Lembro que Tintin conheceu o General Alcazar, um estereótipo de lídel sul-americano autoritário, em O Ídolo Roudado (Orelha Quebrada). Depois, o encontrou em: As Setes Bolas de Cristal, Perdidos no Mar e Tintin e os Pícaros. A seguir, veja o momento em que Zalhazar aparece, abaixo e à esquerda do quadrinho, falando com Tom, Dickson e um repórter. Ele veste um uniforme militar verde. No canto direito da ilustração, mostro o original General Alcazar.

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Logo em seguida à conversa com o General Zalhazar, os membros da equipe de Dickson partem para salvar Campbell. Depois de serem bem-sucedidos em sua empreitada, partem para descobrir uma cidade perdida na selva amazônica. Os membros que sobraram dessa expedição entram então  em uma misteriosa caverna. Circulando, em barcos, através deste ambiente estranho, vão parar numa queda d’água que é idêntica à Cascata, uma das mais famosas obras do holandês Maurits Cornelis Escher, o mestre da impossibilidade arquitetônica. Esta cena também homenageia o pai das construções impossíveis, o sueco Oscar Reutersvärd. Vejam a beleza desta ilustração de Zanon. Depois, exibo o trabalho original de Escher que o inspirou.

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Escher

É uma pena que este quadrinho não tenha dado as caras no Brasil. Quem sabe, um dia, os editores daqui prestem mais atenção à bela Nona Arte que vem da Bélgica e França. Enquanto este dia não chega, e talvez não venha nunca, fiquem com a capa desta belíssima publicação em francês.

Harry 9

Por PH.

Imagens: Philippe Chapelle Zanon / ART & BD / Escher.

Sobre o Autor

PH

É ex-locutor do TOP TV da Record e radialista. Também produz a série Caçador de Coleções e coleciona HQs europeias, nacionais e quadrinhos underground

2 Comentários

  • Referência a Tintin também no diálogo. "Eu sou assessorado por um repórter belga que eu promovi a coronel!!", que é exatamente o que Alcazar faz com Tintim em O Ídolo Roubado/A Orelha Quebrada.

  • Incrível, Pedro Bouça! Como foi que não percebi este detalhe? Seu comentário foi pontual. Estou orgulhoso de ter encontrado pessoas com este tipo de conhecimento na internet. Abraço!

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