De volta à Livraria Leonardo da Vinci, neste mês de fevereiro de 2015, flagrei mais três novidades dos quadrinhos europeus que tanto amo. São eles: Harry Dickson: Les Gardiens du Gouffre, On nous a coupé les ailes e Mermaid Project Tome 3. Trata-se de três maravilhas da banda desenhada que saíram em 2014. O idioma de todas elas é o francês, sem a menor previsão de chegada ao Brasil. Uma pena! Como domino o idioma, minha língua predileta, farei uma resenha rápida de cada um deles. Meu objetivo com matérias deste tipo é o de ajudar a difundir as HQs franco-belgas no Brasil. Infelizmente, o gênero ainda continua muito desconhecido por aqui.
Começo falando de Harry Dickson, um personagem de uma série holandesa de livros que foi recriada pelo belga Jean Ray (Raymond Jean Marie De Kremee). Ray chegou, inclusive, a ser o tradutor oficial dos primeiros romances de Dickson. Ele é uma espécie de detetive, no melhor estilo Sherlock Holmes. O herói já teve pelo menos três diferentes adaptações para os quadrinhos. Uma dessas, a mais Ligne Claire de todas, é produzida por Philippe Chapelle Zanon (desenhos) e Vanderhaeghe (texto). A dupla publicou a aventura de partida para a franquia em 1996. Após um intervalo na confecção dos álbuns, que já durava desde 2005, voltaram em agosto de 2014 com seu nono tomo. A edição, intitulada Les Gardiens du Gouffre (Os Guardiões do Abismo), tem a marca da ART & BD. Até então, os outros volumes haviam sido editados pela Dargaud. Desta vez, numa caçada alucinante, Dickson e seu fiel amigo Tom Wills viajarão, do coração do Império Britânico ao topo gelado da Cordilheira dos Andes, passando pelos perigos da Floresta Amazônica. Somente então, perseguirão seus adversários nas ruas congeladas de Praga, capital da República Checa, indo parar no quartel general da Alemanha nazista, o castelo Wewelsburg, lugar que ficou conhecido por ter sido utilizado pela SS, em 1934, comandado por Heinrich Himmler. Les Gardiens du Gouffre é uma aventura fantástica, para ninguém botar defeito, recheada de ingredientes históricos. Para completar, possui aquele visual típico que remete a Blake e Mortimer.
Imagem: Zanon / Vanderhaeghe / ART & BD.
Em On nous a coupé les ailes (Nos cortaram as asas), o soldado francês René Nicolas narra o drama que passou, em meio às trincheiras da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). Ele e seus companheiros de tropa estão constantemente ameaçados pelos ataques alemães, pelos primeiros combates aéreos da história moderna e pela violência, cansaço e fome. Enquanto passa o tempo, René escreve para sua mãe, contando seu sofrimento e dificuldade para se adaptar à situação . Não é raro que descreva a morte de seus colegas em campo, desintegrados por minas. A narrativa, criada pelo roteirista Fred Bernard, alterna memórias do front com recordações de infância deste jovem que é vítima de um conflito insano. Os desenhos são de Émile Bravo, um admirador da Ligne Claire que é o autor das aventuras de Jules. Seu traço tem algo de infantil e mágico, mas seus temas são profundamente adultos. On nous a coupé les ailes é, na verdade, um livro ilustrado.
Imagem: Émile Bravo / Albin Michel.
O derradeiro quadrinho que cito é o terceiro e último volume de Mermaid Project (Projeto Sereia) chegou no último dia 19 de junho de 2014 às livrarias da França e Bélgica. Trata-se de uma série de ficção científica criada pelo brasileiro Leo, juntamente com Corine Jamar e Fred Simon. Desta vez, entretanto, o desenhista Leo é responsável apenas pela parte do roteiro do quadrinho. Na HQ, a realidade do mundo se transformou bastante, sendo bastante diferente daquela que conhecemos atualmente. A parte do planeta que era considerada como Primeiro Mundo passa por muitos problemas e vê seu prestígio e influência declinarem. Negros, mestiços, asiáticos e sul-americanos ganham espaço e passam a dar as ordens. E não é só isso! O futuro traz muita engenharia genética e alterações climáticas. Neste contexto, a inspetora Romane Pennac é uma jovem policial parisiense que descobre as perigosas experiências da empresa Algapower, local em que seu irmão é um dos pesquisadores. Esta companhia misturou o genoma humano ao de golfinhos, desenvolvendo uma nova espécie que será usada com propósitos puramente comerciais. Uma dessas cobaias, o golfinho Delph, sacrificou sua vida para ajudar Pennac no último episódio da saga. De Paris ao Rio de Janeiro, passando por Nova York e Canadá, Pennac investigará a fundo a Algapower, tentando descobrir todos os segredos nefastos que esta esconde. Mermaid Project Tome 3 tem 48 páginas, capa dura mostrando um Rio de Janeiro futurista e formato de 24,5 x 32 cm. Curiosamente, Leo desistiu de viver em nosso país, por não encontrar reconhecimento e trabalho em sua área. Hoje, é um dos mais prestigiados artistas de quadrinhos da França.
Imagem: © DARGAUD / Fred Simon / Leo.
Não deixe de passar na Livraria Leonardo da Vinci para conferir seu vasto acervo de livros e quadrinhos. Atualmente, muitas de suas HQs estão em promoção. A loja surgiu nos anos 1950, é uma das mais antigas da cidade e aceita encomendas internacionais. Ela fica no subsolo do número 185 da Avenida Rio Branco, no lendário Edifício Marquês de Herval. Lá, também há HQs em português.
Por PH, a partir de textos fornecidos pelos respectivos editores.
Este mês o site arrasou, nem sei qual quero mais! As capas estão lindinhas bem instigantes. tanta coisa boa que é impossível escolher um ou outro. Parabéns!