“Tintin no Congo” é uma das mais polêmicas e não politicamente corretas histórias do jovem repórter belga. Muitos acusam Hergé, nesta aventura, de ter representado os negros da África, através de traço e conceito bastante preconceituosos. Sob protestos, redesenhou Tintin na África, em 1946, amenizando a forte visão colonial da primeira versão em P&B de 1931. Mesmo assim, cenas fortes em que o herói mata animais selvagens aleatoriamente, e sem motivo aparente, não foram suprimidas. Muitos anos depois, em 2006, um outro famoso autor europeu, o francês Joann Sfar, fez uma citação a este capítulo obscuro de Tintin. Em Jerusalém de África, quinto volume de O Gato do Rabino, os personagens principais dessa saga resolvem fazer uma viagem à Etiópia, com o objetivo de encontrarem lendários e seculares judeus negros gigantes que viveriam numa Jerusalém bem diferente daquela que existe em Israel. Eles seriam descendentes do Rei Salomão e fariam parte de uma comunidade isolada no meio do deserto. Antes de chegarem a seu destino, tem um curioso encontro com Tintin. O evento acontece em uma página apenas e retrata o personagem de maneira dura. Ele aparece exterminando bichos com uma espingarda, da mesma forma que faz em Tintin na África, e fala sem parar. Entre outras coisas, exagera numa lição de higiene, menospreza as técnicas de escrita do mundo oriental e se autopromove, pedindo que não deixem de ler as matérias que escreve para um jornal. Quando a expedição deixa o rapaz, para continuar sua missão, não esconde o desagrado em tê-lo encontrado em plena jornada. O Rabino Sfar, uma das figuras centrais da trama, chega a a reproduzir uma expressão de alívio pela partida. Curiosamente, no desenho animado de O Gato do Rabino, lançado em 2011, esta passagem da HQ foi suavizada. A animação, entretanto, não poupou o herói mais famoso do quadrinho europeu. A verdade é que O Gato do Rabino é um fantástico quadrinho que não economiza críticas a vários temas, entre eles: o Judaísmo e o Cristianismo. Nem o próprio Hergé e Tintin foram poupados. Apesar de amarmos este respeitado baluarte da HQ belga, reconhecemos que Hergé roteirizou e desenhou Tintin na África, segundo registros fotográficos e livros, sem nunca ter estado no continente que inspirou sua narrativa. Estas fontes eram naturalmente carregadas de todo o preconceito que realmente existia na época. Refletiam a maneira de pensar das pessoas daqueles tempo. Apesar de sua reconhecida posição de direita e mesmo tendo sido acusado de colaborar com os alemães, durante Segunda Guerra Mundial, Hergé sempre afirmou que nunca teve a intenção de denegrir a imagem dos negros em Tintin na África. Eu, particularmente, acho que suas motivações não foram ruins, embora o resultado final da obra tenha resultado num equívoco evidente. Por outro lado, Sfar não inventou nada, mostrando exatamente o que se passa nas páginas do álbum. Tudo isto vem a confirmar que O Gato do Rabino, incluindo todas as suas cinco edições, é uma aula contra a intolerância, seja ela qual for. Jerusalém de África está disponível em português pelas Edições ASA de Portugal. Somente os dois primeiros números da coleção foram publicados em nosso país, com a marca de Zahar Editores.
Por PH.
Ahh e mta emoção adoro tintin vcs são de mais!!!