Quadrinhos

Nova HQ de Lefranc coloca o famoso personagem criado por Jacques Martin em trama fantástica na União Soviética

Escrito por PH

LF matSeguindo  a tradicional receita de bolo da Ligne Claire, mais um excelente álbum deu as caras nas livrarias europeias. Estou falando de L’Enfant Staline, da série Lefranc, de autoria de Thierry Robberecht (texto) e Régric (desenhos), baseado na obra de Jacques Martin. Sua história se passa em fevereiro de 1953, em Moscou, quando o jornalista Guy Lefranc viaja para a União Sovética, com o objetivo de cobrir uma turnê de escritores ocidentais naquele país. Alguns destes intelectuais são fãs de Josef Stalin, ditador soviético que exerceu seu poder desde o ano de 1922. Outros não compartilham da mesma admiração. O britânico Andrew Byrne é um espião que usa seu disfarce no grupo para colocar as mãos em documentos secretos que estão em posse de uma geneticista chamada Paulina Tikhonov. Entretanto, o infiltrado inglês acaba sendo sequestrado pelos serviços secretos soviéticos. Antes de cair na mão de seus algozes, Byrne só tem tempo de entregar a Lefranc, o que procurava, um enorme dossiê vermelho. Intitulado “Petit Frère”, o livro é dedicado a um misterioso menino de 12 anos que seria, na verdade, um clone exato de Stalin. Através de informações fornecidas por Paulina, Lefranc fica sabendo que os cientistas vermelhos conseguiram copiar o DNA de seu líder supremo, numa tentativa de torná-lo imortal. Caberá a nosso herói, no entanto, acabar com este sinistros planos. É bom lembrar que a trama, apesar de fictícia, é embasada historicamente e cronologicamente. Stalin morreu, de fato, em 5 de março de 1953. Seu óbito foi causado por derrame, em circunstâncias ainda hoje pouco esclarecidas. Não seria muito difícil, surgir uma teoria da conspiração que tivesse semelhanças com os fatos descritos nesta HQ. É desse argumento fantástico que partem seus autores. L’Enfant Staline é o tomo 24 das aventuras de Lefranc, personagem idealizado, em 1954, pelo saudoso Jacques Martin (1921-2010), criador de Alix e ex-assistente de Hergé, o pai de Tintin. O volume tem 48 páginas coloridas, formato de 22,5 x 30 cm, capa dura e custa 10,95 €. Foi lançado em agosto de 2013 e não tem tradução para o português. Com cenários belíssimos e um ótimo trabalho de reconstrução e ambientação de época, Régric revive os bons tempos de Lefranc, aproximando seu traço do de E.P. Jacobs. Para quem não sabe, a Ligne Claire é um jeito de desenhar HQs que foi muito popularizado por Hergé, embora não tenha sido inventada por ele. Os primórdios do estilo remontam à Bécassine, personagem feminina que foi idealizada, por Jacqueline Rivière e Joseph Pinchon, em 1905. Normalmente, os artistas que levantam a bandeira deste segmento da Nona Arte preferem seguir dois caminhos muito próximos para realizar suas pranchas. Alguns optam por reproduzir o visual de Tintin, enquanto outros se inspiram nos grafismos de Edgar Pierre Jacobs, o artista por trás de Blake e Mortimer e também ex-assistente de Hergé. Há ainda os que escolhem uma mistura dos dois e aqueles que fazem algo distinto. Basicamente, os elementos constantes em HQs deste tipo são: cores chapadas, emprego de traços simples nas fisionomias dos personagens, esmero no desenho de carros, prédios e mobiliário e predileção por situar as histórias nos anos 1950. Este último aspecto citado não é uma regra, podendo haver histórias que se passem em outras décadas ou até mesmo, nos dias de hoje. Lefranc jamais teve uma edição no Brasil, país onde o quadrinho europeu tem uma incrível e inexplicável dificuldade de penetração. É um material de primeira que continua desconhecido da grande maioria do público leitor de HQs. L’Enfant Staline foi tema do Leituras no Metrô, quadro que tenho em meu Twitter )@PHTOPTV). Algumas informações do texto desta matéria foram traduzidas de release fornecido pelas Editions Casterman.

Por PH.

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Sobre o Autor

PH

É ex-locutor do TOP TV da Record e radialista. Também produz a série Caçador de Coleções e coleciona HQs europeias, nacionais e quadrinhos underground

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