Quadrinhos

Tendo o primeiro contato com “O Mundo de Edena: Os Jardins de Edena”, de Moebius

Escrito por PH

DSC_2702Em visita à Livraria da Travessa do Leblon, no Rio de Janeiro, tive meu primeiro contato com Os Jardins de Edena, segundo volume da série O Mundo de Edena, de Moebius. Trata-se de mais um dos excelentes lançamentos de HQs com a marca da Editora Nemo.  O volume chega ao Brasil, após exatos 30 anos de sua publicação original na Europa. O mais legal disso tudo, é ter nas mãos, um álbum que tem exatamente as mesmas características do volume importado, publicado pelas Éditions Casterman da Bélgica. Falo isso, com conhecimento de causa, já que compro HQs europeias, desde os anos 1970. Aprendi a língua francesa, com o objetivo de ler estas publicações no original. Há 30 anos, venho me especializando nesta área e já acompanhei o surgimento e desaparecimento de muitas editoras, no Brasil, que tentaram popularizar o quadrinho europeu por aqui. De todas estas, incluindo Bruguera, Cedibra, Hemus e RGE, nunca havia visto uma empresa que tivesse coragem suficiente para encarar este complicado segmento, de maneira tão eficaz. Além disso, ao mesmo tempo em que mantém o padrão de qualidade que se pratica lá fora, a Nemo busca pelo mesmo tipo de público alvo perseguido por editoras como Dargaud, Le Lombard e Dupuis. É que em países como França e Bélgica, os quadrinhos tem capa dura, papel especial e saem direto das gráficas para as livrarias, se direcionando quase que totalmente ao público juvenil e adulto. E não é só isso! Se preocupando em não afugentar o leitor com preços estratosféricos, a Nemo está dando certo e promete ter vida longa. Sua capacidade de produzir HQs mais baratas do que suas similares estrangeiras vive surpreendendo. Mas qual é a mágica da Nemo? Penso que a estratégia de escolher autores internacionais e temas mais familiares aos leitores brasileiros tem facilitado a bem sucedida penetração da Nemo. Sua negociação com fornecedores de gráficas é ótima, resultando em conseguir reduzir os custos de seus produtos. Juntando-se a isso, uma excelente distribuição em livrarias e a simpatia da imprensa, que tem gerado uma incrível quantidade de matérias positivas em jornais, revistas e sites, dá para perceber que a Nemo é a bola da vez. Por fim, a impecável tradução de Fernando Scheibe completa o favorável quadro. No caso deste Os Jardins de Edena, quando peguei o exemplar na mão, cheguei a pensar que se tratava da edição francesa, tamanho é o seu capricho gráfico. Na trama desta fantástica banda desenhada, depois de enfrentarem uma catástrofe espacial, no primeiro número da série (Na Estrela), os mecânicos de naves Atan e Stel chegam a Edena, um planeta paradisíaco, um mundo em estado natural, estranho a seus olhos futuristas. Aos poucos, Atan e Stel buscam se adaptar ao novo ambiente, descobrindo o sabor de frutas, o gosto da água fresca, os efeitos do sol quente sobre a cabeça e muitas outras sensações, numa clara referência ao Jardim do Éden e ao tema de Adão e Eva. Trata-se de uma obra que contrapõe ficção e realidade, tecnologia e natureza, razão e emoção. A série O Mundo de Edena se soma a outras edições de Moebius, já publicadas pela editora Nemo em sua Coleção Moebius: Arzach, Absoluten Calfeutrail & Outras Histórias, O homem é bom?, As Férias do Major, A Garagem Hermética, O Homem do Ciguri, Crônicas Metálicas e Caos. Jean Giraud nasceu em Nogent-sur-Marne, na França, em 1938. Começou sua carreira como artista de história em quadrinhos aos 18 anos, publicando sua primeira história, Frank et Jeremie, para a revista Far West. Tornou-se conhecido ao desenhar a série de faroeste Blueberry, roteirizada por Jean-Michel Charlier e publicada pela revista Pilote. Em 1963, Giraud deu vida ao seu pseudônimo Moebius na revista Hara Kiri, onde publica diversas histórias. Em 1974 ajudou a criar a revista de fantasia e ficção científica Métal Hurlant, com as primeiras histórias de Arzach. A publicação não teve vida tão longa na França, mas sobrevive até hoje, nos Estados Unidos, sob o nome de Heavy Metal. Como Moebius, o artista francês também contribuiu para a criação de diversos filmes de ficção científica como Alien (1979), Tron (1982) e O quinto elemento (1997), além de ter trabalhado em parceria com Stan Lee na criação da graphic novel do Surfista Prateado, para a Marvel, em 1988. Vítima de câncer, morreu em 10 de março de 2012, em Paris, França. Todo este material de Moebius e de outros feras da Nona Arte, que chega a nosso pela Nemo, é um marco divisor em nosso mercado nacional de quadrinhos e fonte de inspiração para que outras editoras melhorem o nível das HQs em terras tupiniquins. Que venham mais álbuns e graphic novels de qualidade e que também se prestigie o autor nacional, a exemplo da Nemo.

Por PH, com parte do texto aproveitada de release fornecido pelo editor.

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Sobre o Autor

PH

É ex-locutor do TOP TV da Record e radialista. Também produz a série Caçador de Coleções e coleciona HQs europeias, nacionais e quadrinhos underground

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