Albert Cossery foi um famoso escritor egípcio, nascido em 1913 no Cairo, que desde muito pequeno, recebeu educação francesa. Sua primeira obra, Les Hommes oubliés de Dieu, foi publicada em 1940. Cinco anos depois, passou a viver em Paris, cidade onde veio a falecer em 2008. As histórias de seus romances, em sua grande maioria, se passam no Egito. Uma de suas narrativas, Mendiants et orgueilleux (Mendigos e orgulhosos), teve duas adaptações para o cinema, respectivamente em 1971 e 1991, e uma versão para os quadrinhos. Esta última foi republicada em 2009, pelo selo Futuropolis, e tem muitos ingredientes do estilo Ligne Claire, jeito de desenhar popularizado por Hergé, o criador de Tintin. Particularmente, em Mendiants et orgueilleux, encontramos mais semelhanças gráficas com o traço do desenhista Didier Savard, pai do detetive Dick Hérisson e outro baluarte da Linha Clara. Quem transportou o universo de Cossery para as páginas de um luxuoso quadrinho de capa dura foi Guy Nadaud. Mais conhecido como Golo, ele é um artista francês de HQs que vive e trabalha no Cairo. A trama desta aventura que é nossa atual leitura de cabeceira se desenrola na metade do século XX e tem como protagonista, Gohar, um velho professor de filosofia, viciado em haxixe, que se torna mendigo. A narrativa evolui pelas ruas da capital egípcia, envolvendo um assassinato e a busca por um culpado pelo crime. A investigação é conduzida pelo policial Nour El Dine. Além disso, o leitor é apresentado a outros personagens, entre eles: Set Amina, dona de um prostíbulo, El Kordi, funcionário de um ministério egípcio, e Yeghen, traficante de drogas, poeta e fornecedor de haxixe a Gohar. Publicado originalmente na revista À Suivre, quinze anos anos antes de sua edição pela Futuropolis, Mendiants et orgueilleux chegou a ter, em 1991, uma tiragem pela Casterman. Retratando um mundo em que a miséria convive bem com a felicidade, este álbum é um retrato de um Egito do passado. O clima que encontramos nesta Banda Desenhada é bem diferente daquele vivido pelo país, desde os protestos e queda de Hosni Mubarak em 2011. Num de seus primeiros momentos, Mendiants et orgueilleux mostra Gohar dormindo em um cômodo, sonhando que está se afogando em uma enchente. Assim que acorda, percebe que realmente há água entrando no quarto e descobre que ela é proveniente da lavagem de um cadáver que acontece na casa ao lado. Este ácido humor negro que dá início à trama dá o tom do que vem em seguida. Infelizmente, o exemplar que estamos conferindo não tem tradução para o português. Não é por isso que deixamos de falar nele. Quem sabe, algum dia, uma Editora Nemo da vida não se interesse em publicá-lo no Brasil? Gohar, só para registro, é o cara de chapéu vermelho e cabelos brancos que aparece abaixo.
Por PH.
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