Não estranhe o internauta, o fato de conferirmos graphic novels não necessariamente recentes. É que nosso blog não tem compromisso apenas com as novidades do mercado. Como colecionadores, estamos atentos a tudo, quando o assunto é quadrinho adulto. Isso sem falar no fato de que nem sempre, o acesso a determinadas publicações se faz à medida em que elas são lançadas. Essa situação fica ainda mais desfavorável, quando o material a ser analisado é importado. Demorou para possuirmos esta preciosidade, de 1994, mas conseguimos botar as mãos nela. “Pussey” é uma fabulosa HQ de Daniel Clowes, artista que é o autor do traço e roteiro de quadrinhos pouco convencionais e nada politicamente corretos. Junto com “Ghost World” (Gal Editora) e “Como uma luva de veludo moldada em ferro” (Conrad), ela é um dos trabalhos mais legais de Clowes. O volume foi muito bem recebido na Europa, a exemplo de outras obras do autor, e chegou a ter uma edição própria na França. Se levarmos em conta que este mercado não é tão aberto a quadrinhos estrangeiros e possui uma produção própria com autores locais, em sua maioria, franceses, belgas e espanhóis, essa aceitação de Clowes, por parte do leitor de quadrinhos do Velho Continente, é uma prova de que seu talento ultrapassa fronteiras. O motivo não está só no fato dele flertar com o estilo Ligne Claire, jeito de desenhar que privilegia as cores chapadas e pouco sombreamento e que foi bastante popularizado por Hergé, o criador de Tintin. As razões desta empatia europeia estão ligadas, sobretudo, aos temas de Daniel, próximos do universo da Nona Arte e mais distantes dos tradicionais super-heróis americanos. Quando ele recorre a esse gênero, o faz na forma de paródia em que ironiza o universo dos encapuzados mascarados e seus poderes não humanos. Na maioria das vezes, os personagens de Daniel Clowes são pessoas comuns, como o frustrado Wilson, da graphic novel Wilson (Cia. das Letras), mostrando a triste vida de um homem de meia idade que só tem um cachorro como companhia, ou as desajustadas adolescentes de Ghost World, Enid e Rebecca, duas amigas que destoam da maioria das tribos da sociedade e que vivem num mundo à parte. Pussey, pronunciado “pooh-say”, é uma sátira à cultura pop e ao comércio de arte. Esta quinta edição que conferimos é de novembro de 2012 e mantém a mesma capa da tiragem de 2006. São 64 páginas em preto e branco com um prefácio em quadrinhos, realizado por Clowes, em que ele descreve as origens de Pussey. A trama vai fundo na indústria da HQ e conta a história de Dan Pussey, um nerd antissocial e desenhista que almeja conseguir êxito, imitando o estilo de revistas em quadrinhos que lê desde criança. Idealizador do herói Nauseator, ele é convidado pelo Dr. Infinity,junto com um seleto time de artistas, para fazer parte da equipe que produzirá novos títulos para a Infinity Comics, sátira a editoras como Marvel e DC. O próprio Infinity, não deixa de ser uma imagem distorcida e engraçada do respeitado Stan Lee,lendário guru da Marvel. Todos os desenhistas convocados por Infinity terão a missão de desenvolver novas revistas para o selo, incluindo: Army- Bots, MuscleMaster, Infinity Hombre, New Age Krystyll, Marionette Squad e The 10-Year Robot War. Entre outras bizarrices, Pussey tem fantasias em que transa com suas fãs, vestido de super-herói.Além disso, brinca com seus colegas do meio, sem poupar o cartunista e ilustrador Art Spiegelman. Nem o editor que o abraça há anos, a Fantagraphic Books, escapa às suas críticas. Para quem se interessar, o exemplar pode ser comprado no site da Livraria Cultura e custa R$ 27,80. Seu preço canadense é de $ 9,95. Vale a pena conferir. O idioma do exemplar é o inglês e não há tradução para o português.
Por PH.
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