Por mais que seja fã de Beatles e tenha tido todos os discos da banda, inclusive os fora de série, não imaginei que ler os hipotéticos desabafos de John Lennon à uma fictícia psicanalista do Edifício Dakota em Nova York se transformaria em uma leitura tão arrebatadora.
Com desenhos de Horne Perreard, pintados em tons de cinza e que contribuem para deixar melancólicos os relatos do Beatle mais intelectual, esse quadrinho baseado em um romance homônimo de David Foenkinos nos apresenta à intimidade emocional de um músico brilhante. E é tudo narrado à uma profissional da qual só vemos as pernas cruzadas.
E o que essa mulher escuta e anota reflete sobretudo a falta de amor que Lennon recebeu por parte de pai e mãe e o quanto essa rejeição sentida por ele esteve na base do quarteto e no sucesso das músicas autobiográficas do cantor.
Palavra por palavra, e no ponto de vista de Lennon, descobrimos um mundo triste, embalado por drogas, a chegada e partida de Brian Epstein, as temporadas em Hamburgo, a relação com Paul McCartney, dois integrantes que não chegaram a ver o sucesso da banda, o surgimento de George Harrison e Ringo Starr, a jornada exaustiva de shows, a apresentação no programa do Ed Sullivan, o nascimento do filho Julian, o casamento infeliz que John teve com Cynthia Powell, mãe da criança, o fantástico trabalho de George Martin como produtor, o respeito a Elvis Presley e a rivalidade dos Fab Four com o Rei do Rock, os tempos de autoconhecimento na Índia, a entrada de Yoko na vida de Lennon, o nascimento de Sean, o fim dos Beatles e o desaparecimento trágico do próprio John Lennon, mostrado à parte das sessões de análise do músico e de outras lembranças dele no decorrer da história. É o único momento em que o relato não é feito em primeira pessoa.
No final das 152 psicológicas páginas da graphic novel Lennon, você percebe o quanto essa narrativa adaptada por Eric Corbeyran te envolve e o quanto faz com venha a conhecer os elementos por traz de sua genialidade.
Além de tudo isso, quem se acostumou a ouvir os discos de vinil dos Beatles, como eu, talvez nunca tenha tido a curiosidade de entrar fundo na mente do líder do conjunto musical que segundo declaração megalômana do próprio Lennon, chegou a ser mais popular do que Jesus Cristo. Agora, eu sei o que estava por trás de tantos hits que ouvi na infância e adolescência!
Recomendo essa graphic novel francesa a todos, mesmo aqueles que nunca se interessaram por Beatles! É uma obra de revelações e de mergulho na alma de uma pessoa que chegou ao estrelato mundial, mas que era na verdade um solitário!
A HQ tem capa em brochura e preço de R$ 39,80.
Por PH.