Quadrinhos

Conferimos o surpreendente Monsieur Jabot, a primeira história em quadrinhos de que se tem notícia

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Escrito por PH

capaMonsieur  Jabot é um daqueles surpreendentes quadrinhos que cai nas nossas mãos e que se não fosse pela iniciativa da SESI-SP editora em publicá-lo, jamais teria caído.

Trata-se da primeira HQ de que se tem notícia, datada de 1833, de autoria do suíço Rodolphe Töpffer, respeitado professor universitário e deputado provincial do passado, filho do pintor Wolfgang Adam Toepffer.

Desenhada em 1831, ela narra as desventuras de um personagem, que por seu jeito desajeitado, arruma inúmeros desafetos e tem duelos mortais agendados no Baile da Senhorita Du Bocage, evento para o qual foi convidado.

Atrapalhando músicos, derrubando e sendo esmagado por dançarinos, acabando com uma partida de xadrez e outra de carteado, além de causar desconforto por manifestar abertamente suas opiniões políticas, Jabot provoca o caos. O resto dos desastres que essa figura atrapalhada causa será descoberto nessa leitura fascinante e que se mostra bastante atual.

Em Monsieur Jabot, os desenhos são cuidadosamente dispostos em continuação numa narrativa sem balões, na qual o texto original em francês é mantido. Sua tradução, feita por Flavia Lago, é colocada logo abaixo.

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Jabot foi o primeiro álbum de Töpffer a ser editado, após ter criado: Os Amores do Monsieur Vieux Bois, As Aventuras do Doutor Festus, Monsieur Crytogame, Monsieur Trictrac, Monsieur Pencil, A História de Monsieur Crépin, História de Albert, Fluet e Vertpré.

Com Monsieur Jabot e outros de seus trabalhos, realizados em meio a uma conservadora sociedade de Genebra, o autor atraiu as atenções do poeta, romancista e diplomata Johann Wolfgang von Goethe. Na época, o artista não passava por momentos muito felizes em sua vida e viu na obra de Töpffer, algo de extremamente interessante, divertido, inteligente, original, imaginativo e engraçado. Incentivado pelo amigo Soret, Goethe escreveu depoimentos calorosos em relação aos livros de Rodolphe que eram gentilmente enviados a ele.

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Pesquisei alguns detalhes para escrever esse artigo, mas a maior parte das curiosidades sobre essa primordial HQ, a gente fica conhecendo através de um rico texto redigido aqui mesmo no Brasil por André Caramuru Albert, um descendente paulista do autor suíço que herdou antigas edições de Töpffer. O material foi presenteado a ele pelo falecido pai, Jean Aubert, que por sua vez, havia ganho o material de seu pai. Tudo foi guardado carinhosamente por Caramuru, durante os últimos anos, dando origem ao livro que chega agora ao mercado.

E o curioso é que Töpffer desenhava essas histórias apenas para diversão própria, com medo de bater de frente com a elite da época. Foi apenas graças a Frédérique Soret, responsável por mandar seus experimentos a Goethe, que Töpffer finalmente percebeu o tesouro que sua produção de literatura com estampas representava.

Recomendo a todos esse quadrinho de 70 páginas, precursor de tudo que aí está, impresso em formato retangular e em capa dura! É uma pérola histórica da Arte Sequêncial!

Por PH.

Sobre o Autor

PH

É ex-locutor do TOP TV da Record e radialista. Também produz a série Caçador de Coleções e coleciona HQs europeias, nacionais e quadrinhos underground

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