Spirou foi criado por Robert Velter (Rob-Vel) para o lançamento da revista Spirou em 1938. Trata-se de um dos personagens de BD que mais tem se reciclado nos últimos anos, já tendo passado pelas mãos de Jijé, Franquin, Fournier, Tome & Janry, Nic & Cauvin e atualmente estando sob o comando de Yoann e Fabien Vehlmann.
Não foi à toa que As Aventuras de Spirou e Fantásio ganharam uma nova série, na qual Frank Le Gall, Émile Bravo, Olivier Schwartz, Parme e Tarrin já emprestaram seu traço em releituras que podem ser comparadas às Graphic MSP nacionais de Mauricio de Sousa.
Em O SPIROU DE, coleção editada no Brasil pela SESI-SP, não há compromisso em ser fiel ao herói groom clássico. Assim, cada artista tem carta branca para redesenhá-lo do jeito que quiser, sem ter que se preocupar em emular traços de desenhistas anteriores da série. Cada aventura tem a marca da editora DUPUIS e possui um estilo completamente único, como no caso de La Grosse Tête, de 2015, de autoria de Tehem (desenhos) e Makyo/Toldac (roteiro), feita num estilo bastante moderno e despojado.
Em La Grosse Tête, Fantásio resolve escrever um livro sobre La Mauvaise Tête (A Máscara Misteriosa), BD de Franquin que foi publicada originalmente em 1956. Embora essa HQ possua duas histórias: A Máscara Misteriosa e Não façam Mal aos Pintarroxos, é a primeira delas que ganha versão literária por parte de Fantásio. No enredo de La Mauvaise Tête, Fantásio é dado como o autor do roubo de uma máscara feita inteiramente de ouro da Rainha Nefersisit, durante uma cerimônia que está sendo gravada para uma atração jornalística da TV. Acreditando na inocência do amigo, Spirou acaba por descobrir que é o primo de Fantásio, o vilão Zantáfio, está por trás do crime.
Ao reescrever a trama de La Mauvaise Tête, Fantásio muda um pouco o argumento, a partir de seu ponto de vista para os fatos ocorridos em A Máscara Misteriosa, diminuindo a importância de Spirou. O livro é um fracasso de vendas, mas no momento em que um produtor resolve levar o romance para o cinema, tudo muda, inclusive o roteiro. Dessa vez, o feitiço vira contra o feiticeiro e Spirou volta a ter a relevância merecida. O filme, contando com uma participação apagada de Fantásio, vira um sucesso estrondoso. Spirou se torna um grande astro pop da atualidade, por vezes arrogante, e a relação entre os dois amigos se deteriora até que a gravação de O Prisioneiro de Bouddaha, sequência do primeiro filme, está para ser realizada no reino fictício de Bretzerburg, assolado por um golpe militar alimentar que tem o objetivo de intoxicar a população e controlá-la pela ingestão excessiva de comida altamente calórica. Nessa momento delicado, nossos heróis mal estão se falando, mas a filmagem em Bretzerburg poderá alterar a relação entre os dois.
E aí está uma aventura moderna de Spirou e Fantásio que aborda a questão o ego humano. Tanto que a expressão La Grosse Tête, apesar de ter a tradução literal em português de A Cabeça Gorda, é uma expressão que serve para se referir a pessoas pretensiosas ou arrogantes. Ainda em relação a esse título, chamo atenção para a capa de La Grosse Tête, que faz uma divertida alusão à La Mauvaise Tête, conforme foto abaixo!
Valeu demais! Adorei conferir esse quadrinho que coloca o leitor no mundo das grandes produções cinematográficas, do ciúme e do estrelato, tendo ainda tempo para mencionar o atual tema da crise mundial de refugiados! Espero ler, em breve, La Lumière de Bornéo, de Frank e Zidrou e Spirou au Kongo Belche, versão bruxelloise de O Mestre das Hóstias Negras. O segundo citado sai em breve pela SESI-SP.
Por PH.