Quadrinhos

E finalmente, aqui está a nossa resenha para a versão colorizada de “Tintin nos País dos Sovietes”

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Escrito por PH

dffdf2E aqui estou eu para escrever a minha resenha de Tintin no País dos Sovietes em cores, BD que eu ganhei da Livraria Francesa, por ocasião da gravação de um Papo Franco-Belga sobre essa primeira história de Tintin, datada de 1929.

Trata-se da primeira aventura do herói belga, na qual ele é enviado para fazer uma série de reportagens em Moscou, sendo perseguido de todas as formas para que o conteúdo de suas matérias não chegue ao Ocidente, o que poderia contrariar a propaganda maciça de prosperidade do regime. Na verdade, o relato é profundamente anti-comunista e aproveita para alfinetar a sociedade vermelha de diversas formas.

Tintin denuncia, entre outras coisas, a fome pela qual passavam os russos, sofrendo com a falta de trigo disponível à venda no comércio, enquanto toda a produção dessa gramínea era exportada para outros países. E a ferrenha crítica de Hergé ao sistema comunista revela também a mentira de fábricas de fachada que nada produziam, além de barulhos artificiais e fumaça. Apesar de todo esse clima denunciatório, a HQ foi lançada ao mesmo tempo em que acontecem as comemorações dos Cem Anos da Revolução Russa.

Todo esse material foi inicialmente editado em capítulos no Le Petit Vingtième, suplemento juvenil semanal do Jornal Le Vingtième Siècle. Rejeitada por Hergé, que alegou nunca ter tido tempo para colori-la ou redesenhá-la, a HQ só foi reeditada em 1973, em P&B, dentro dos Arquivos Hergé. Depois, voltou em 1981 numa versão em álbum igualmente em preto e branco, bastante semelhante ao quadrinho original que saiu em 1930. Mais tarde, retornaria nos anos 2000 no formato que se encontra à venda até hoje nas livrarias, inclusive no Brasil.

E pensar que tudo isso saiu das mãos de um talentoso Hergé de apenas 21 anos e que mal havia sido sido iniciado na arte do desenho. Lendo suas 137 páginas, agora mais vivas do que nunca, dá para ver como o garoto tinha talento. Fora o fato de seu traço ser ainda primário, da falta de cores e da presença de um Tintin violento, brigão e nada gentil, a aventura é bem ágil, inspirada sobretudo em gags que proliferavam em filmes de Charles Chaplin, O Gordo e o Magro e Harold Lloyd.

Não é só uma grande vitalidade nas cenas de ação que essa HQ esbanja. Há também bastante ingenuidade e criatividade nas soluções propostas por Hergé para livrar Tintin de problemas. Num determinado momento da trama, em solo soviético, o carro em que Tintin e Milou viajam está com e o pneu vazio e precisa parar. Não há bomba de ar disponível ou posto de gasolina por perto. O jeito encontrado por nosso pequeno jornalista para resolver a situação foi o de botar um homem para correr, provocando-o no meio da estrada, fazendo com que ficasse ofegante. Tintin então coloca o pneu em seu pescoço e faz com que ele o encha com sua rápida respiração. Em outra parte da narrativa, o avião usado por Tintin para fugir de Moscou sofre uma pane e cai, quebrando sua hélice. O jovem derruba uma árvore com um canivete, sem a menor preocupação ecológica, e esculpe na madeira uma outra hélice com o mesmo instrumento. É tudo inacreditavelmente simplório demais!

Quanto às cores, foram escolhidas dentro da mesma gama restrita de tons que Hergé usou na época em álbuns posteriores. Tudo foi pesquisado e houve muita reflexão por parte dos profissionais envolvidos nesse processo, embora os coloristas não apareçam nos créditos. O resultado final parece saído de fato de 1929. Com as inéditas cores, a narrativa ganhou em legibilidade. Vários detalhes que passavam despercebidos anteriormente, agora saltam aos olhos!

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O momento mais importante desse álbum acontece quando Tintin, fugindo da polícia soviética que o persegue, consegue roubar o seu carro e dispara com Milu em alta velocidade pela estrada. A força do vento faz o seu cabelo levantar, produzindo seu topete mítico que jamais baixaria! É muito legal conferir essa origem de um detalhe tão especial no visual do personagem e que a maioria dos leitores nunca teve a menor ideia de onde veio!

Embora muitos considerem essa colorização como uma verdadeira heresia, posso dafirmar que tudo foi feito para preservar o espírito da obra de Hergé e o caráter retrô desse quadrinho. Em minha opinião, não houve violência à obra do autor, que acabou ganhando uma inesperada modernidade e maior interesse em sua leitura! Eu, que nunca havia dado muita bola para a HQ em P&B, adorei reler essa aventura esquecida de Tintin, oportunamente renovada. Talvez tenha sida uma das bem acertadas revitalizadas de quadrinhos da história! Só falta ser lançada no Brasil! Não duvido que seja!

Querendo saber mais sobre essa BD, assista ao nosso Papo Franco-Belga sobre ela, em francês, gravado na Livraria Francesa de Ipanema.

Por PH.

 

Sobre o Autor

PH

É ex-locutor do TOP TV da Record e radialista. Também produz a série Caçador de Coleções e coleciona HQs europeias, nacionais e quadrinhos underground

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