Quadrinhos

“Espaços Vazios” traz uma fantástica viagem ao passado familiar do desenhista Miguel Francisco, falando de Guerra Civil Espanhola, Franco e Exílio na Argentina

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Escrito por PH

migTenho que reconhecer que, no último ano principalmente, avançamos muito em termos de banda desenhada, em sua maior parte graças à SESI-SP, que está trazendo Verões Felizes, Spirou, GUS e outros lançamentos europeus em quadrinhos que nunca iriamos imaginar no Brasil. Recentemente, o grupo paulistano anunciou a chegada do Agente Espaço-Temporal Valerian, notícia sem precedentes em terras tupiniquins.

Não podemos esquecer também da AVEC Editora, que através de um projeto no qual estou envolvido como tradutor e Consultor de BD, nos brindou com uma turma holandesa da pesada, incluindo Guardiã, January Jones e Ember. E ainda vem mais por aí!

E ainda tem a Editora Nemo, surgida em 2011 com Moebius, Enki Bilal e Bourgeon e outros mais, que investe atualmente num segmento francês adulto de graphic novels.

Mas a questão da dificuldade do quadrinho europeu em se implantar no Brasil vem de muito tempo, via inúmeras séries lançadas e interrompidas bruscamente, fazendo com que coleções e personagens consagrados na Europa parassem no meio do caminho de sua trajetória editorial sul-americana. Sem mencionar o nome de editores, cito Aya de Yopougon, Era uma vez na França, XIII, Blacksad, Os Mundos de Aldebaran e por aí vai. Se há alguma insegurança em relação ao desempenho lucrativo de determinadas publicações, seria melhor que as editoras não investissem em séries para não decepcionar leitores, em caso de suspensão do projeto no meio. HQs One-Shot são mais indicadas para evitar o mico de não haver correspondência em relação às expectativas de venda!

Tudo bem que os leitores daqui se interessem majoritariamente por heróis da DC, Marvel e mangás japoneses, mas as editoras nacionais tem que fazer a sua parte direito, nesse segmento, sabendo que é preciso ter paciência para que todos esses títulos e heróis estranhos aos brasileiros peguem. Não vão sair de cara, mas um bom trabalho de divulgação é tudo! Largar nas lojas, simplesmente, e aguardar o boca a boca não é a solução! Dessa forma, muitas coisas boas acabam ficando de fora de nosso mercado. A gente vê cada BD espetacular desembarcando em Paris e Bruxelas e não entende a razão de nunca as encontrarmos em português numa Livraria Saraiva ou Cultura.

É o caso de Espaços Vazios (Des Espaces Vides), do desenhista espanhol Miguel Francisco, que saiu no fim de janeiro pela DELCOURT/MIRAGES. É um trabalho quase autobiográfico de um quadrinista que tenta reconstituir a história de seu clã, através de pesquisas e lembranças familiares.

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E tudo começa quando o desenhista Miguel está lendo um jornal e seu filho de cinco anos leva a ele uma foto antiga que mostra o avô do garoto, de origem espanhola. A imagem traz muitas lembranças de bate-papos que Miguel teve com o velho homem. Enquanto cozinha, Miguel resolve revelar a seu filho o legado rico em histórias de seu pai, uma figura das antigas que fala uma língua que o pequeno não conhece. Além de relembrar histórias do pai, Miguel também cita momentos vividos com o seu misterioso avô e retorna ao período sombrio da Guerra Civil Espanhola, época em que seus dois antepassados passaram por momentos difíceis. Tudo é contado de maneira dinâmica, num estilo caricato, misturando presente e passado em cenários semi-realistas, passando igualmente pela época de Franco e pela questão dos espanhóis exilados na Argentina. Durante a conversa, o menino faz várias perguntas. Numa delas, quer saber o motivo da existência das guerras, deixando seu progenitor desconcertado.

Publicado no dia 25 de janeiro de 2017, Espaços Vazios tem 128 páginas em cor bege, capa dura, formato de 20 x 26,3 cm e preço de 17,95 euros.

E o nome desse fantástico trabalho de Miguel Francisco também tem a ver com o começo do texto do artigo, que fala basicamente dos espaços vazios que existem em nossas lojas especializadas em comics, à espera de serem preenchidos com títulos europeus de extrema qualidade e que jamais dão as caras por aqui, nem em notas de sites! E quem resolve escrever sobre eles ainda pode ser taxado de excêntrico ou idealista e ser encarado com estranheza! Imagino a pergunta que deve rolar por aí: Esse maluco escreve afinal sobre o quê? He, He, He!

O que eu posso fazer, se leio e falo francês e estou de olho nisso tudo desde os anos 1970? Quadrinho de qualidade superior é comigo mesmo!

Quem vai gostar dessa matéria é o amigo e desenhista Flavio Luiz, que já havia me indicado essa leitura.

Imagens : © DELCOURT / Miguel Francisco.

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Sobre o Autor

PH

É ex-locutor do TOP TV da Record e radialista. Também produz a série Caçador de Coleções e coleciona HQs europeias, nacionais e quadrinhos underground

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