E eis que chegou às minhas mãos nesse mês de novembro de 2016 uma HQ da Editora Nemo que foge totalmente ao comum, tendo as regras e a rotina massacrante da vida da maioria das pessoas como tema principal.
Talvez, por isso, seu autor tenha optado por conceber a obra com diagramação pouco ortodoxa e tons de cinza. Não poderia ser diferente! Pranchas certinhas demais e cores não combinariam com a narrativa densa e magnificamente enclausurante desse quadrinho!
Estou falando de A Gigantesca Barba do Mal, graphic novel que tem autoria do quadrinista britânico Stephen Collins e tradução de Eduardo Soares.
Tudo se passa na Ilha de Aqui, onde seus moradores levam uma existência metódica, regrada e meticulosa. Dave, um de seus habitantes, segue essa mesma rotina entediante. Ele é considerado um funcionário padrão e parece estar satisfeito com seu trabalho, que exige detalhadas apresentações em Power Point, cheias de gráficos complicados sobre metas e lucros. No seu pequeno aparelho de som, a música Eternal Flame das meninas do grupo Bangles toca incessantemente em modo “repeat”.
Aí está o típico exemplo de um cara que se vestia de maneira sóbria e que seria mais um na multidão, como a maioria dos seres humanos desse planeta, acostumados a se lançarem diariamente de casa para o trabalho e do trabalho para casa, como se isso fosse o real e único motivo que justificasse a sua breve passagem pelo planeta.
Um belo dia, e eu acho que isso foi uma resposta inconsciente de Dave a todo esse tradicionalismo e “way of life” automático, sua barba começou a crescer sem parar, desafiando qualquer explicação científica plausível.
Agora, Dave não era mais um número, uma estatística. Finalmente, ele se diferenciava do resto das pessoas de Aqui.
Mas, como toda a grande mudança vem com um preço, o que aconteceu com Dave trouxe uma série de problemas para ele e para muitos. Seu infortúnio passou a gerar pânico e muita desconfiança em Aqui. Era como se ele estivesse amaldiçoado e possuído por algo do mal, inexplicável e que ia contra toda a lógica. A enorme barba se tornara caso de polícia!
Como controlar esse monstro incontrolável que nascia de sua pele e que extrapolava a noção de mundinho estanque e fechado que muitos elegeram para ser o seu, inclusive o dele?
A Gigantesca Barba do Mal nos faz refletir a respeito do frágil universo que construímos ao nosso redor e sobre a dificuldade com a qual os seres humanos tem em conviver com o diferente! A questão que a obra propõe é simples e profunda, ao mesmo tempo: o diverso precisaria ser extinto, banido, afastado de nós, ou inteligentemente assimilado em seus pontos positivos?
Leitura recomendadíssima pelo Tujaviu!
Por PH.