É incrível, como artistas europeus conseguem criar obras em quadrinhos que falam sobre o Brasil, de maneira incrivelmente verossímil!
É por isso, que hoje falo sobre a continuação do primeiro tomo de RIO, intitulado Dieu pour tous, álbum de Louise Garcia (texto) Corentin Rouge (arte). Les yeux de la favela (Os olhos da favela) também leva a marca das Éditions Glénat e sairá no dia 19 de outubro de 2016, em francês.
Gostaria que soubessem que estou brigando para termos uma versão em português dessa HQ da anterior, com minha tradução. Torçam para que isto aconteça! Acho que esse quadrinho precisa, mais do que qualquer um, chegar ao nosso mercado.
Mas vamos lembrar os fatos que aconteceram no primeiro volume da saga, tema de matéria no Tujaviu.
Rubeus e Nina nasceram numa favela do Rio de Janeiro. Eles são entregues à própria sorte, no dia em que sua mãe é assassinada por Jonas, tira corrupto, do qual a mulher era informante e amante. As crianças são obrigadas então a fugir de seu ambiente natal para escapar do malvado PM que deu fim à vida de sua progenitora. Recolhidos por Bakar, um pivete do Centro do Rio, eles entram para uma gangue de meninos de rua e acabam estando entre as vítimas de um evento muito similar ao da Chacina da Candelária, ocorrido na madrugada de 23 de julho de 1993, quando mais de 40 crianças e adolescentes que dormiam nos arredores da Igreja da Candelária foram alvo de tiros disparados por homens armados. Entre pobreza e violência, a malandragem é a única forma de sobreviverem, embora exista a possibilidade de serem adotados por uma família rica! Pois é justamente isso que ocorre!
Na continuação de Deus por Todos, dez anos se passaram, depois que Rubeus e Nina foram adotados no final da trama por um casal de ricaços. Os dois vivem agora no seio da alta burguesia brasileira. Ao contrário de sua irmã, que parece ter se adaptado à nova vida, o jovem não se acostuma ao cotidiano das elites. Por outro lado, Ramon, e Bakar, os meninos de rua, já crescidos, e que ajudaram os dois irmãos no passado, trabalham agora para Mozar, um chefe do tráfico numa favela. Enquanto as tensões aumentam entre traficantes locais e policiais banda podre, Nina é sequestrada durante um coquetel organizado pela ONG de seu pai adotivo. Logo, a polícia acusa Mozar pelo crime, mas Rubeus decide tentar ele próprio resolver o caso, retornando à comunidade em que cresceu.
Brilhantemente, Corentin Rouge e Louise Garcia continuam sua saga urbana em terras cariocas, nos fazendo descobrir diferentes vertentes da nossa sociedade, miscigenada, desigual e, por vezes, violenta.
Apesar de ser difícil para um estrangeiro entender a complexidade das favelas cariocas e das injustiças sociais que assolam o nosso país, a dupla de autores em questão conseguiu realizar uma obra que não passa muito distante de nossa realidade. Não é à toa, pois Corentin chegou a morar ano Rio, onde realizou uma belíssima documentação fotográfica e encontrou muitas pessoas que o orientaram nessa empreitada. Por outro lado, Louise cresceu no Brasil e conhece como ninguém o nosso dia a dia.
Segundo Corentin, a série está programada para ter quatro álbuns, que tocarão na questão da polícia, da política e até da Magia Negra.
Corentin Rouge, fã do trabalho de Jean Giraud em Blueberry, desenvolve um método que segue os passos estéticos narrativos de seu famoso mestre.
Por PH.