E aqui estou eu, de novo, falando da BD Rastreadores da Taça Perdida: O Segredo da Jules Rimet. E faço isso com o maior prazer! É bom lembrar que todo o trabalho que realizo em meu site é majoritariamente dedicado ao quadrinho de expressão franco-belga, um gênero que é curiosamente desprezado e incompreendido há muitos anos por leitores e editores brasileiros.
Em países como França e Bélgica, existe uma cultura própria de quadrinhos que é chamada de Nona Arte. É uma forma de se fazer HQs que eleva séries, personagens e trabalho de roteiristas e desenhistas a um patamar equivalente ao do cinema. Não é à toa que o valor de um livro e de uma bande dessinée seja o mesmo no mundo francófono.
E não é só isso! As temáticas dessas produções passam longe da questão de superpoderes e figuras musculosas, enquanto argumentos aventureiros, adultos, cheios de humor e referências históricas, culturais e geográficas dão o tom.
Por uma questão difícil de entender, a produção de álbuns em francês, que atinge pelo menos 400 títulos por mês, fica restrita a seus países de origem, à exceção de raros títulos que conseguem fazer carreira internacional.
No Brasil, por exemplo, o consumo deste tipo de produto até tem aumentado nos últimos anos, mas continua inexpressivo e incrivelmente abaixo, em relação à venda de gibis de super-heróis e mangás.
O desconhecimento é tanto, que explicar o que vem a ser quadrinho europeu para as pessoas é uma rotina penosa em minha vida! Dá pena, mas esta é a realidade!
Por isso, quando dou de cara com algo nacional e que reflete tudo isso que escrevi aí em cima, fico bastante feliz e paro tudo para escrever sobre o assunto. Foi o caso de uma pérola autografada que acabei de receber do amigo Giorgio Cappelli.
Lançamento da Bila Edições, Rastreadores da Taça Perdida: O Segredo da Jules Rimet é uma BD típica, adaptada para a realidade de nosso país. Traz um pouco de história contemporânea e de futebol, ao resgatar, com muita liberdade, o verídico caso do roubo da Taça do Tri, ganha em 1970 por nossa seleção. Tudo a ver com o clima de olimpíadas que vivemos nos últimos tempos.
Com texto e desenhos de Cappelli e cores de Enéas Ribeiro Corrêa, Rastreadores tem grandes sacadas e é preciso ficar atento a elas para que piadas importantes não passem despercebidas.
Na trama da HQ, Vini Del Toro é um famoso playboy aventureiro, caçador de objetos raros para colecionadores e de bandidos procurados, entre outros. Seu corpo atlético contrasta com uma capacidade intelectual reduzida. Bem mais esperto do que ele e cérebro pensante da dupla, está seu sócio Giovanni, um cara que se ressente da falta de comunicação que sempre teve com os pais, mímicos profissionais. Ôpa! Pintou um spoiler! Me desculpem, mas adorei essa piadinha! E há outras que prometo não contar!
Quando a família de Vini se encontra supostamente à beira da falência, o agora “ex-milionário” precisa arrumar o primeiro emprego de sua vida. O que pinta rapidamente é a tarefa de esclarecer o roubo da Taça Jules Rimet, troféu que a seleção brasileira ganhou em 1970 e que já havia sido furtado em 1966 na Inglaterra. No ano de 1983, ela foi misteriosamente levada da sede da CBF. Dado como sumido e provavelmente derretido, o perdido objeto é fonte de polêmicas até hoje!
Numa atmosfera de L’Homme de Rio, filme de 1964 que teve Jean-Paul Belmondo como astro principal, nossos heróis caçam esse verdadeiro Graal por São Paulo, Aracaju e Ponta Grossa.
Gostei muito do que li! Ótima fórmula de bolo! Um acontecimento histórico é misturado a informações reais, ficção e situações engraçadas, numa incrível viagem por diversas regiões brasileiras. Num desses lugares, nossos heróis encontram uma estranha cidade perdida. Vou parar por aqui, para não estragar a surpresa!
Para encerrar, toda essa epopeia com jeitão franco-belga justifica o nome do álbum, Rastreadores da Taça Perdida, referência explícita a Caçadores da Arca Perdida, primeiro episódio de Indiana Jones!
Obrigado a você, Cappelli, pelo envio de um lindo e autografado exemplar desta maravilha, do tipo que é difícil de se ver em terras tupiniquins!
Conferi a publicação em viagens pelo metrô carioca, durante as Olimpíadas 2016!
A HQ se encontra à venda no site: www.criesuashqs.com. Boa compra e ótima leitura!
Por PH.