O Gato do Rabino se passa na Argélia de 1920, onde um rabino viúvo mora apenas com Zlabya, a filha adolescente, e seu gato. O animal, que é apaixonado pela jovem, come um papagaio e adquire a capacidade de falar. Não demora muito para revelar-se extremamente esperto, fazendo severas críticas a alguns aspectos religiosos conservadores.
Entre outras coisas, deseja sofrer uma circuncisão e se converter ao judaísmo, ideias que não são muito bem aceitas pela conservadora comunidade hebraica e por seu dono. Para incrementar sua lista de pedidos, o felino clama por um Bar-Mitzvah, cerimônia que comemora a maioridade religiosa, aos 13 anos de idade, de todo menino judeu.
Nove anos após o lançamento de Jerusalém de África, publicado em português pela ASA de Portugal, Joaan Sfar trouxe pela Dargaud o sexto tomo de sua série, O Gato do Rabino, descontinuada injustamente no Brasil, após o segundo volume.
A novidade, Tu n’auras pas d’autre Dieu que moi (Serei seu único Deus), tem seu título saído do Êxodo, o segundo livro do Antigo Testamento. O nome é profundo e simbólico, mas como fica o leitor nesse jogo de lançar e cancelar das editoras? A resposta é simples e tem a ver com esforço próprio.
Como colecinar quadrinhos europeus em meu país é quase uma atividade arqueológica, veja abaixo, como consegui completar a minha coleção, num esforço incrível para juntar edições brasileiras, portuguesas e francesas da saga.
Tu n’auras pas d’autre Dieu que moi saiu em agosto de 2015 na França.
Embora pareça ser a mais engraçada de todas as HQs do Gato, esta é na verdade uma de suas histórias mais ligadas à religião.
Ela expõe o sentimento do homem em relação à mudanças na ordem natural das coisas e como este reage ao fato, apoiando-se na espiritualidade!
Desta vez, o Gato falante, pensante, inteligente e protagonista da série se revolta contra a vida, pois sua dona está grávida. Ele não se conforma com a mudança de posição que sofrerá com o nascimento da criança, já que todas as futuras atenções de sua amada serão destinadas ao pequeno rebento. Decepcionado, o animal foge e tenta viver como um gato normal nas ruas. Em busca por sua própria essência, ele poderá provocar uma tragédia.
Na verdade, todo este inconformismo e falta de carinho que o bichano sentr sãos apenas pretextos para que o autor traga à luz a questão religiosa, que está geralmente presente em sua obra, discutindo a respeito do que ele chama de “inutilidade da oração”. Seu porta-voz é o incomodado felino, que começa então a contestar a razão das preces e sua real eficácia.
Em entrevista ao Jornal Le Figaro, Sfar, que é de origem judaica, admite ser muito pouco religioso, mas apegado ao ritual, conjunto de gestos, palavras e procedimentos simbólicos que ele acredita ser uma eficaz proteção para o ser humano.
A HQ pertence à Coleção Poisson Pilote, custa 12,99 euros e teve o apoio todo especial da rádio France Inter, conforme imagem acima.
Tu n’auras pas d’autre Dieu que moi não deverá vir para o Brasil, como sempre!
Por PH.
A capa e uma obra de arte.