E o site www.tujaviu.com realizou um sonho! Finalmente, conseguimos entrevistar o ilustre LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA, desenhista brasileiro que mora na França e é o criador de Os Mundos de Aldebaran. Não apenas morador deste país europeu, há muitos anos, ele é bastante respeitado por lá no mundo da Nona Arte e tido como um dos melhores artistas da banda-desenhada franco belga da atualidade. Além de Os Mundos de Aldebaran, série que tem a aventureira espacial Kim Keller como principal personagem, LEO também é o criador de: Dexter London, Namibia, Kenya, Survivants, Terres Lointaines La Porte de Brazenac, Ultime Frontière e Centaurus. Espero que gostem deste bate-papo que eu, PH, tive com ele por e-mail, um momento “digital” da minha vida que jamais esquecerei.
1 – Sei que é engenheiro e gosta de carros. Acha que consegue passar esta paixão para seus quadrinhos, através dos diversos e arrojados veículos que imagina em suas aventuras, incluindo as naves espaciais?
Parece um contra senso , mas nas minhas historias, eu não dou muita importância ao aspecto dos veículos e naves espaciais. Eu procuro fazê-los da maneira mais simples, sem muitas elocubrações. Não sei explicar porque. Talvez seja porque praticamente não uso régua nos meus desenhos, a não ser para fazer os quadrinhos.
2 – Já desenhava quadrinhos, antes de ir para a França?
Sim, fiz algumas histórias ainda no Brasil, mas só consegui publicar numa revista que se chamava O Bicho, no fim dos anos 70. Foi a minha primeira história publicada. Me esqueci como se chamava! Tinha só umas cinco ou seis páginas e era uma ficção científica, claro.
3 – Qual foi o primeiro desenho em quadrinhos que se lembra de ter feito?
Quando eu tinha uns 10 anos, desenhei uma historinha com o Mickey. Uma história policial onde o Mickey era o detetive. Como vê, comecei cedo!
4 – Você tem uma predileção óbvia por heroínas. Existe algum plano futuro para lançar um novo protagonista masculino, como aconteceu em Terres Lointaines, Dexter London e Trent?
Por enquanto, não tenho nenhum plano com um herói masculino. Prefiro que os personagens centrais sejam mulheres, de um lado, porque prefiro desenhar mulheres bonitas, em vez de homens musculosos, e também, porque heróis homens já existem aos montes, e em geral rodeados de mulheres bobas, frágeis e enervantes. Prefiro fazer o inverso. Sou um feminista instintivo e convicto.
5 – Um de seus trabalhos que mais gosto é justamente Dexter London. Esta série poderia ser retomada?
Infelizmente, não. Ela não fez muito sucesso, em grande parte, pois o desenhista, o espanhol Sergio Garcia, é professor da Universidade de Granada e ele não tinha muito tempo para desenhar a historia. Acabou que o prazo entre o aparecimento de cada álbum era muito longo e isso prejudicou as vendas e enervou o editor. É uma pena! Eu também gosto dessa série.
6 – Existe alguma chance de vermos Mermaid Project lançada no Brasil? Digo isso, por ser uma série que se passa, na maioria do tempo, por aqui.
Isso não depende de mim. Não sei responder. A Dargaud possui um departamento de vendas ao estrangeiro e sei que eles tentam vender no mundo inteiro.
7 – Imagina qual é o motivo que torna complicada a difusão do quadrinho franco-belga no Brasil?
Ah se eu soubesse! Me lembro que quando eu morava ainda em São Paulo, a editora Abril publicou alguns dos monstros sagrados da BD: Jean Giraud, Bilal, Manara, etc. Eu e meus colegas desenhistas, que éramos todos fãs de quadrinhos europeus, estávamos certos de que o público iria acompanhar, pois a edição era de qualidade bem melhor do que fez a Panini. Que nada! Foi um fracasso e a Abril interrompeu a coleção. Incompreensível! Ficamos inconsoláveis.
8 – Como a sua infância e brincadeiras destes tempos influenciaram no trabalho que faz hoje?
É difícil dizer, mas é certo que os meus roteiros vão buscar suas origens nas coisas da infancia e juventude. Me lembro, por exemplo, que o meu irmão, três anos mais velho que eu, me chamou a atenção uma vez, sobre a experiência incrível que viveram os primeiros descobridores do Brasil, ao chegarem naquela terra selvagem, com fauna e flora diferentes, com índios estranhos. Uma experiência que nós, hoje, não teremos nunca mais a oportunidade de viver. A não ser que fôssemos descobrir outros planetas longínquos, selvagens e inexplorados. Como isso é praticament impossível, dado as distâncias colossais, resta a possibilidade de se fazer viagens imaginárias…
9 – Possui algum ressentimento por ser mais conhecido na Europa do que em seu país?
Não, eu não diria isso. Acho uma pena, claro, mas não ressentimento. Muitos outros paises além do Brasil não curtem a BD franco-belga. O que fica é mais uma satisfação de, apesar de ter vindo de um pais sem essa cultura de BD adulta, eu ter conseguido me implantar aqui.
10 – Sempre imaginei que Kim, heroína de Os Mundos de Aldebaran e suas derivações, e Manon, protagonista de Survivants, poderiam se encontrar em um crossover destas séries. Isto seria possível?
Claro que sim! E é o que vai acontecer na proxima série que dará continuidade à Antares. Eu previ desde o início. E isso, apesar da dificuldade que existe. Se a gente prestar atenção ao ler Survivants, nos damos conta de que Manon nasceu um século antes da Kim. Para superar esse impecilho, existe a mirobolante possibilidade de usar os desequilíbrios quânticos que, como todo mundo sabe, podem provocar saltos temporais…
11 – O que podemos esperar das duas gêmas de Centaurus, June e Joy, nova saga que você realiza em parceria com Rodolphe e Janjetov?
Centaurus, que eu escrevo conjuntamente com meu parceiro Rodolphe, é uma saga totalmente independente dos Mundos de Aldebaran, minha HQ principal e mais pessoal. O roteiro de Centaurus é super complexo e eu confesso que muita coisa está ainda por ser definida. Aliás, neste momento, estamos justamente começando a escrever o terceiro tomo da série. E tá complicado!
12 – Onde busca inspiração para os incríveis animais e plantas que cria?
Essa é talvez a pergunta que mais me fazem e que eu não sei responder. É difícil saber de onde surgem minhas inspirações. Só sei que às vezes, já no momento de escrever o roteiro, a imagem do animal me vêm à cabeça automaticamente. Outras vezes, não! Eu sou obrigado então a buscar inspiração, folheando livros sobre insetos, dinossauros, peixes das profundezas. São uma fonte inesgotável de idéias!
13 – Voltará aos Brasil, um dia?
Voltar para morar, não creio. Custei tanto para conseguir chegar aqui e aqui ficar que não tenho mais vontade de sair. E acho que perdi o hábito de viver no Brasil. Nas vezes em que fui aí de férias (raras vezes!), me senti um estrangeiro…
Por PH e LEO.
Obrigado ao amigo JM Grelots, do blog les épatantes aventures d’Émile Bravo, por sua ajuda na versão francesa do texto.
Agradeço também à amiga Cristina Oliveira, Caetano Brasil e ao LEO, pela imensa simpatia.
http://emile-bravo.blogspot.com.br/
O LEO é fantástico. Uma pena que o seu trabalho não encontre um editor, aqui no Brasil, para dar continuidade ao que já foi publicado.
Dificil encontrar matéria de qualidades como as que o site tujaviu publica sobre a banda desenhada nas redes sociais.Um trabalho tão bonito e uma pena que algumas editoras não tenham interesse em mostrar para seus leitores os quadrinhos europeus como vocês.
Sucesso pro Leo! Me senti incentivado a tentar a carreira fora daqui. 🙂 Se as editoras nacionais não estão a fim de publicar material tão bacana quanto o dele, pior pra elas.