Quando a gente tem mais de 40 anos, gosta de coisas que a maioria dos amigos não conhece e nunca ouviu falar, dá vontade de parar e se perguntar como isso pode ter acontecido. Será que nasci no país errado? De onde vem o gosto por estes gibis maravilhosos que a maioria considera esquisitices de um colecionador de revistas em Quadrinhos européias. Será que mais alguém fala a minha língua? Devem falar, pois já estive na França, Bélgica e Portugal e nesses países encontrei todas as preciosidades que amo, além de muitas pessoas que cultivam esta mesma paixão. Resolvi escrever este artigo, pois pela primeira vez na vida, acho que as palavras que divulgo neste blog estão sendo ouvidas. Tudo aconteceu quando decidi fazer uma matéria sobre o famoso personagem francês Michel Vaillant publicado no Brasil pela Editora Hemus nos anos 70 e, por engano, citei a empresa como extinta. Qual foi a minha surpresa e felicidade quando esta semana, recebi o seguinte e-mail que transcrevo aqui:
“Pessoal,
Gostaria de parabenizá-los pelo excelente artigo sobre o Michel Vaillant, livro que publicamos na década de 70, mas, o principal motivo do meu contato é para avisá-los que a Hemus Editora não foi extinta, foi incorporada pela Leopardo Editora, tornando-se um selo junto com o da própria Leopardo. Visite o site www.leopardoeditora.com.br e www.hemus.com.br
Atenciosamente,
Ely Behar”
Agradeço imensamente a mensagem do Sr. Ely e agora que percebi ter estabelecido um canal com o mundo e depois de ter feito as devidas correções no texto, vou direto ao assunto desta matéria. Para começar, vamos explicar o que são alguns termos comuns para os portugueses e franceses e que a maioria dos brasileiros desconhece. Você ainda vai, por exemplo, ouvir falar muito de álbum. Esta palavra nada tem a ver com um livro de figurinhas, como se poderia pensar num primeiro momento. Álbum é a maneira pela qual é chamado um gibi em Quadrinhos de capa dura. É desta maneira que os franco-belgas e portugueses, por tabela, curtem seus gibis que são bem luxuosos, geralmente impressos em papel especial, com um interior muito bem cuidado e desenhado. Não é à toa que, por lá, se dá aos quadrinhos o nome de Nona Arte. Outro aspecto é que os heróis mostrados nestas obras são, na maioria, pessoas comuns como repórteres, pilotos de corrida ou de aviões, detetives, personagens épicos e outros tipos normais. O diferencial europeu fica por conta da ausência total de super-poderes. O nome também muda. Saem os Quadrinhos e gibis, para dar lugar ao título Banda Desenhada ou Bande Dessinée em francês. São revistas tratadas como se fossem livros e vendidas apenas em livrarias. O público adulto é um dos maiores consumidores deste tipo de produto.
E agora, vamos falar um pouco das lendárias editoras do Brasil, Portugal e Espanha que publicaram este gênero de gibis. No Brasil, podemos citar as editoras Bruguera dos personagens Strapontam e Humpa-Pá, Vecchi que editou os Strunfs (Smurfs) e o título Rush de Michel Vaillant, Hemus com Ric Hochet, Luc Orient e outros mais e Cedibra. Esta última publicou os álbuns de Asterix e Mortadelo e Salaminho nos anos 70. Quem é que não lembra destes atrapalhados detetives espanhóis criados por F.Ibáñez e que povoaram a infância da criançada brasileira em tempos de ditadura?
Em Portugal, diversas editoras mergulharam neste segmento. Foi na antiga Casa Mattos, uma tradicional e extinta papelaria do Rio de Janeiro, que me deparei pela primeira vez com estas preciosidades lusitanas dos Quadrinhos. Também os encontrava com facilidade na Sears na Praia de Botafogo, outra casa comercial de departamentos que deixou saudades e na Leonardo da Vinci na Avenida Rio Branco no centro do Rio. Esta livraria é a única que existe até hoje e curiosamente, ainda vende este formato de livro. Estavam lá nas prateleteiras, Michel Vaillant, Strapontam, Bob Morane e Bernard Prince. Todos estes títulos foram publicados pela saudosa e lendária Editorial Íbis que na década de 1960 foi uma das principais editoras de quadrinhos de Portugal. Além dela, podemos citar a União Gráfica (Kim Kebranoz), Livraria Bertrand (vários), Publica (Spirou), Edições 70 (Alix), Distri (Comanche, Michel Vaillant e Dan Cooper), Verbo (Tintin e Yakari), Futura (Ric Hochet), Dom Quixote (Ric Hochet), Plátano (Norbert e Kari), Paralelo (Salamão e Mortadela), Lello (Rock Derby) e mais recentemente, Meribérica e Edições ASA que é a maior editora portuguesa de Quadrinhos da atualidade. É a ASA que edita, entre outras, as aventuras de Asterix e Lucky Luke.
Para fechar a matéria, citamos algumas históricas editoras espanholas como a Jaimes Libros que publicou o personagem Florêncio (Strapontam) e a Argos que editou material da editora belga Dupuis como Benito Sanson (Kim Kebranoz), Jano y Pirluit e Los Pitufos (Strunfs/Smurfs). Desde 1977, quem lidera o mercado editorial na Espanha é a Norma Editorial que publica, atualmente, muitas novidades em matéria de Quadrinhos franco-belgas.
Quem quiser conhecer um pouco mais dos gibis europeus descritos aqui, pode acessar a nossa seção de capas favoritas do Tu já viu, listadas por ordem alfabética.