Quadrinhos

Por que muitas pessoas acham que História em Quadrinhos é coisa de criança?

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que tudo que escrevo neste blog, tem uma relação direta com a minha vida pessoal. Este é um espaço onde falo das coisas que realmente gosto. Tenho 46 anos, sou carioca, formado em Programação Visual pela Universidade do Rio de Janeiro, além de ter frequentado todo o curso regular de francês da Aliança Francesa, bem como sua continuação opcional que é o Nancy. Sempre gostei de gibis e os coleciono há tempos. Desde muito criança, já era frequentador de bancas de jornais. Comecei a me interessar pelas tradicionais revistas da Disney, como a maioria dos que foram criança nos anos 1970. Aos poucos, passei a comprar as HQs de super-heróis, publicadas pelas extintas Ebal e Bloch. Deste último selo editorial carioca, era fã de muitas de suas edições de terror, entre elas, a “A Múmia” e “A Tumba de Drácula”. Também comprei da Bloch, todos os números de “Planeta dos Macacos”, publicação baseada na série de TV e cinema de mesmo nome. O fato de ter aprendido francês, me abriu as portas para outros tipos de heróis, muito apreciados em regiões fracófonas, como França e Bélgica, e também em Portugal e Espanha. São eles: Tintin, Asterix, Lucky Luke, Blake e Mortimer, Strunfs, Michel Vaillant e Spirou. Hoje, coleciono quadrinhos franco-belgas. A maioria do que possuo é inédito por aqui, ou recebe pouquíssima atenção, por parte do leitor e do mercado editorial brasileiro. Independente de serem européias, americanas, japonesas, italianas ou japonesas, Histórias em Quadrinhos ainda são vítimas de um grande preconceito em pleno século XXI. Muitos me olham torto e me consideram um infantilóide, por amar HQs. É bom que se saiba que este é um gênero de arte, um meio de comunicação e uma forma de se contar uma história, da mesma forma que acontece com o cinema, teatro e livros. Os gibis sempre refletem a cultura de seus países de origem, sendo por isso, bem diversificados ao redor do planeta. No Brasil os quadrinhos começaram a surgir no século XIX, através de cartuns, charges e caricaturas que evoluíram para tiras de jornais. Nosso mercado é basicamente dominado pelas edições de quadrinhos americanos. A maioria é formada por super-heróis, como Batman, Homem-Aranha, X-Men e muitos mais, publicados nos Estados Unidos por DC Comics e Marvel Comics. Nos últimos tempos, o Mangá japonês vem ganhando espaço, acompanhado em menor proporção, pelas HQs de autores nacionais. Muitos desenhistas vivem hoje da produção de gibis, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Do Velho Continente, poderiamos citar o brasileiro Leo, André Juillard, Émile Bravo, Uderzo (Asterix) e Jean Giraud, mais conhecido como Moebius. Nos Estados Unidos, mencionamos o também brasileiro Mike Deodato Jr., que ficou famoso por desenhar a Mulher Maravilha, e Alex Ross, talentoso pintor, responsável por uma enorme quantidade da capas de revistas da Marvel e DC. Para esclarecer um ponto importante, preciso lembrar que além de diversos estilos, formam-se públicos distintos para as HQs. Existem as crianças, que consomem publicações obviamente mais infantilizadas, destinadas a elas. Passamos então pelo target juvenil, que também carece de edições específicas, além do segmento adulto. Nesta categoria, as temáticas são completamente diferentes. Algumas são eróticas e violentas, enquanto que outras resultam em magníficos trabalhos de arte que dificilmente seriam compreendidos pelos pequenos. Quem diz que História em Quadrinhos é coisa apenas de criança, nunca deve ter percebido que este é um universo bastante rico e destinado a todas as idades. Tudo bem que nem todos tenham que gostar de gibis, mas seria bom que as pessoas se informassem melhor, antes de emitir alguma opinião negativa sobre determinado assunto. A foto que ilustra a matéria, por exemplo, foi extraída de um quadrinho francês de 1992, editado pela francesa Dargaud. Ele conta a história de “Betty Brisk”, uma linda mulher que naufraga por acidente na costa de Cuba. Sendo confundida como uma astuta espiã americana, ela causa muitos problemas por onde passa, na tentativa de se esconder do severo regime que a persegue. Até o irmão de Fidel Castro, Raúl, surge no enredo, exigindo que a indesejável gringa seja capturada. O livro em capa dura tem imagens belíssimas do arquipélago socialista, que mais parecem fotografias, contrastando com cenas de extrema brutalidade. O álbum é impregnado de fortes influências da Guerra Fria, período da história, cheio de confrontos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética. Este conflito ideológico aconteceu de 1945, final da Segunda Guerra Mundial, até 1991, ano de extinção da U.R.S.S. “Betty Brisk” é uma legítima Banda Desenhada de autoria de Pierre Nedjar, um artista da mesma Ligne Claire de Hergé (Tintin) e Edgar Pierre Jacobs (Blake e Mortimer), além de ser um discípulo óbvio do desenhista Ted Benoît, outro seguidor da Linha Clara. Não é possível que o que foi descrito aqui, seja coisa de criança. Está respondida a pergunta que dá título à matéria?

Por PH.

Sobre o Autor

PH

É ex-locutor do TOP TV da Record e radialista. Também produz a série Caçador de Coleções e coleciona HQs europeias, nacionais e quadrinhos underground

2 Comentários

  • Puro preconceito contra leitores de HQs o normal pra eles e ler manchetes sangrentas vídeo pornô no celular, babando na banca de jornal olhando mulheres nuas isso normal!!! falta de informação antes eu achava que só existisse historia do cascão cebolinha turma da Monica pura ignorância hoje vejo aqui no blog o universo de gibis que existe nesse mundo inclusive com temas adultos e tenho o maior prazer de mostrar em publico uma obra de arte dessa em minhas mãos não importo com o que vão pensar de mim, qual o problema se eu gosto desse tipo de leitura ahhh fala serioooooo.

  • Watchmen, Sin City, 300, O Cavaleiro das Trevas, O Lobo Solitário…Existe uma infinidade de HQ’s que têm gerado, ao longo de várias décadas, ótimos roteiros para cinema e tv, entretendo inúmeras gerações (inclusive quem critica, por ignorância, os leitores de gibis). Qualquer formato de leitura, além do prazer de ler, pode nos ensinar coisas e levar à reflexão. Um livro pode muito mais tolo que um mangá e ninguém é criticado por conta disso. Então, é puro (e burro) preconceito rotular.
    Não dê atenção a quem não merece, PH. Para o alto e avante!

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