Finalmente, o site conseguiu ter acesso a uma edição de Portugal, quadrinho da Dupuis que foi lançado pelas Edições ASA em 2011. A HQ, de Cyril Pedrosa, tem um traço extremante fino, lembrando rascunhos não finalizados, que não tem o menor objetivo de primar pela perfeição. Ele fornece uma visão particular da realidade, cheia de poesia e reflexões, que já está presente no estilo do criador da obra. Em alguns momentos, seu visual ganha um certo tom psicodélico, transmitindo os conflitos emocionais vividos pelo protagonista do argumento. As cores dessa banda desenhada possuem um papel tão forte, que funcionam quase como um personagem independente da trama, pontuando os momentos da história, indo do sépia e rosa a uma profusão de tons.
Segundo o roteiro do álbum, Simon Muchat é um autor de HQs que está em crise existencial. Seu casamento vai mal, a relação com o pai não é das melhores, seu trabalho como professor de artes parece não lhe trazer satisfação e o artista não consegue mais publicar. Francês, de origem portuguesa, não visitava a terra de seus avós, há pelo menos vinte anos. Um belo dia, recebe um convite para participar de um festival de quadrinhos em Portugal e decide ir. Quando desembarca em terras lusitanas, sofre um choque imediato da barreira da língua. É que Simon não fala português e tem dificuldade para se comunicar com aqueles que não se expressam em seu idioma ou não falam inglês. Aos poucos, com a ajuda de sinais, ele começa a dar o seu recado, ainda não muito à vontade, e até aprende algumas frases. Uma curiosidade deste álbum fica por conta dos balões, em amarelo, que aparecem com texto em português, entre aspas. Eles são usados para identificar os diálogos dos portugueses, incompreensíveis para Simon, e mantidos assim nas edições belga e portuguesa. Isso dá uma ideia da desorientação do personagem, estando numa cultura profundamente diferente daquela em que foi criado. Mesmo assim, este francês consegue perceber uma estranha e familiar musicalidade, vinda daquela pronúncia que é tão estranha a ele. No final das contas, após conversar com muitos parentes da “terrinha”, ainda descobrirá alguns segredos do clã Muchat, incluindo o fato que originou o nome da família.
Cyril Pedrosa é desenhista, roteirista, criador do cultuado e premiado Três Sombras e ex-animador dos estúdios Disney. Pedrosa tem a mesma ascendência de seu herói e costumava passar as férias em Portugal, quando criança. O retorno à pátria de seus familiares rendeu um expressivo trabalho que levou três anos para ficar pronto.
Tudo começou em 2007, quando o artista viajou a Portugal, com o objetivo de participar do Festival de Banda Desenhada de Sobreda da Caparica. Na mesma oportunidade, o artista passou por Lisboa. A própria ilustração da capa não deixa dúvidas, quanto à estada lisboeta de Cyril. O desenho retrata uma cena eternizada no Bairro Alto. Depois, Cyril ainda esteve numa aldeia perto da Figueira da Foz, Distrito de Coimbra, numa casa que o avô construiu nos anos de 1930, antes de partir para França. Pedrosa registrou com maestria estes belos dias que o tiraram da rotina, transformando a experiência em um espetáculo da Nona Arte. A figura de Simon, nesse caso, acabou se tornando uma espécie de avatar de Cyril em sua viagem real.
Portugal se encontra, injustamente, inédito no Brasil! Graças à edição portuguesa, pude apreciá-lo com todo o sotaque lusitano que esta maravilha merece! O luxuoso volume possui capa dura, formato de 15 x 23 cm e capa dura, pertencendo à coleção Aire Libre.
O mais novo trabalho de Pedrosa se chama Les Équinoxes!
Muito envolvente,fico imaginando o que ele passou até aprender a falar o idioma, é absorver uma cultura diferente.O novo sempre apavora.