Ima: Sempre em Frente, publicada pela Artliber, é uma fascinante HQ que traz os traços leves e simples de Eric Peleias. O álbum possui temática ligada à perseguição dos judeus, durante a Segunda Guerra Mundial. Sua trama se dá em 1938, quando a Áustria foi oficialmente anexada pela Alemanha nazista. Convertido em província do III Reich, o país passava a fazer parte da nação de Adolph Hitler. É neste cenário que somos apresentados à Julia, uma garota feliz, que estuda, tem amigas e faz aulas de francês e natação. Quando a cidade toda começa a perseguir pessoas de sua origem, a jovem é obrigada a fugir do país, completamente sozinha, deixando para trás a família e a vida que conhecia. A belíssima edição de Ima: Sempre em Frente contou com ótimos elogios de Vitor Cafaggi e Laerte Coutinho, apresentando prefácio de Dan Stulbach. A publicação começou a circular em maio, possuindo capa em brochura, 96 páginas coloridas, formato de 22 x 29,5 cm e preço de R$ 39,90. Na semana passada, Eric deu uma atenciosa entrevista, por e-mail, ao Tujaviu. Veja suas respostas para as perguntas que fizemos a ele. Desde já, agradeço a Peleias pelo carinho que teve com o site e pela belíssima ilustração exclusiva que nos enviou.
Por PH.
1 – Como começou a trabalhar com quadrinhos e qual é a sua formação?
R. A minha formação original é em direito, mas alguns anos atrás eu descobri que gostava mais de trabalhar com artes e comunicação do que com advocacia. Estudei design gráfico na Escola Panamericana e me especializei em editorial pelo Istituto Europeo di Design. Também fiz cursos de ilustração e desenho em escolas como o Instituto dos Quadrinhos. Tenho meu próprio estúdio, onde há algum tempo faço ilustrações, charges e quadrinhos pequenos para clientes como GP Brasil de F1, Greenpeace, Revista Capital Aberto, entre outros. Sempre quis fazer meus quadrinhos próprios, mas estava esperando a história certa para começar. Essa história chegou em Ima – Sempre em Frente.
2 – Enxerga algo de Tintin e da Ligne Claire em seu traço?
R. O Tintin é uma grande influência, sim. Gosto muito do estilo do Hergé e da maneira como ele consegue transmitir tanta informação sem deixar a impressão de que a página está carregada. Tento sempre procurar o melhor estilo para cada trabalho e quando comecei os esboços para esse projeto, acabei partindo para Ligne Claire. Foi uma escolha natural e orgânica.
3 – Conhece o trabalho de Eric Heuvel, desenhista holandês que é autor de A Busca e Segredo de Família, duas HQs que tem temática semelhante à história de Ima?
R. Conheci os livros de Eric Heuvel, por sugestão de um lojista que viu Ima – Sempre em frente e comentou sobre as semelhanças. Ainda não tive a oportunidade de ler, mas achei os álbuns lindos.
4 – Qual o motivo que o fez escolher o tema da perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, como foco central deste quadrinho?
R. Na verdade, o que mais me atraiu para essa história, foi justamente por se tratar de uma história universal. Muito mais do que uma defesa da causa judaica, ou mais uma história de sobrevivente do holocausto, quis contar sobre como a humanidade tende a perseguir pessoas que sejam minimamente diferentes. A Julia, personagem principal, era apenas uma menina normal, que mal saía de casa sozinha e de repente, precisou abandonar a família e fugir do país. Eu me identifiquei com ela. Tentei me imaginar em situação parecida e não sei se teria a mesma coragem e persistência que ela teve. Gosto de pensar que sim, mas tenho certeza de que histórias parecidas com a dela estão acontecendo neste exato momento com meninos e meninas ao redor do mundo. São crianças que estão sendo perseguidas por causas que não compreendem e que não fazem o menor sentido.
5 – Quanto tempo levou para realizar o projeto?
R. Entre as primeiras conversas e o lançamento no último mês de maio, passaram-se quase 3 anos.
6 – Ima é inspirada em alguém que existiu de fato?
R. Sim, é baseada em uma história real. Ima é a forma carinhosa com que a família chama a Julia. Ela exisitiu e, felizmente, ainda está entre nós. Hoje tem 94 anos e vive na cidade de São Paulo, próxima dos filhos, netos e bisnetos.
7 – Tem planos para publicar este seu trabalho na Europa, em países como França e Bélgica?
R. É um desejo que tenho. Seria incrível, poder ver Ima traduzida para outros idiomas. Vamos conversar com editoras europeias, em breve, mas ainda é cedo para responder a esta pergunta.
8 – O que acha do quadrinho europeu? Sofre mais influência deste ou do americano dos comics?
R. Adoro quadrinhos. Vejo um casamento perfeito entre texto e arte, que se completam para formar uma terceira coisa maior e mais potente. Vejo que cada região tem algo local a acrescentar à receita. Os europeus saíram na frente e isso sempre é uma vantagem. As influências circulam mais rápido com a internet, mas os europeus ainda estão na liderança, na minha opinião. Tento ler de tudo e acredito que meu trabalho é mais influenciado pelas HQs europeias, sobretudo as franco-belgas, italianas e as da região ibérica. Pouco citadas, Espanha e Portugal produzem ótimas HQs. Também preciso citar quadrinistas americanos. Os que mais me inspiram são artistas modernos como Chris Ware e David Mazzucchelli, com trabalhos revolucionários. Deste último, Asterios Polyp é certamente uma grande referência e que recomendo muito.
9 – Citaria algum desenhista franco-belga como preferido?
R. Se precisasse escolher apenas um, seria Hergé, certamente. É impossível não gostar dos álbuns clássicos do Tintin. A dupla original de criadores das aventuras de Astérix também é genial.
10 – Qual será sua próxima HQ?
R. Neste momento, estou fazendo uma HQ curta, de 40 páginas, para vender exclusivamente em festivais de quadrinhos e lojas especializadas. Depois do projeto Ima, senti a necessidade de fazer algo mais leve e cômico. Se chamará “Eu, Super” e conta a história de um homem obcecado com a ideia de ser um super-herói de verdade e as consequências disso. Terá um humor físico, no estilo dos desenhos do Coiote vs. Papa -Léguas. Depois disso, pretendo fazer outro projeto grande. Penso em fazer algo ligado à liberdade de expressão, tema que muito me preocupa. Também tenho a intenção de fazer uma HQ realista para contar sobre a vida de uma família que precisa lidar com uma criança com necessidades especiais.
Não vejo a hora de comprar você me deixou com um gostinho de quero mais, Parabéns pelo sucesso da entrevista.
Nossa PH, só posso dizer que amei e espero que faça mais entrevista como esta viu,Parabéns