Veja a capa e algumas pranchas da edição nacional de Tetralogia Monsto, de Enki Bilal

Me lembro de ter tido os primeiros contatos com a obra de Enki Bilal, através de O Navio de Pedra, de 1976, e Exterminador 17, de 1979, exemplares que vinham de fora e que raramente eram encontrados em livrarias. Graças à mineira Editora Nemo, pude voltar a apreciar os quadrinhos de Bilal, no meu idioma. São preciosidades gráficas que estão mais voltadas para o lado das artes do que qualquer outra coisa. Chegando ao mercado, em breve, Tetratologia Monstro é mais um dos títulos de Bilal que a Nemo diponibiliza para os fãs do autor. Trata-se de uma ficção científica com cores fortes que parecem se desfragmentar, numa espécie de Surrealismo raro de ser encontrado em HQs. Tudo isto tem a marca de um artista de origem iugoslava que é um dos mais respeitados desenhistas da França. Concluído em 2007, o álbum tem 272 páginas, trazendo quatro capítulos: “O Sono do Monstro”, “32 de Dezembro”, “Encontro em Paris” e “Quatro?” A trama de Tetralogia Monstro, inicialmente prevista para ser apenas um trilogia, é focada em memória e reencontros. Nike, Leyla e Amir são três órfãos nascidos sob as bombas do cerco a Sarajevo, na época da guerra que destruiu a Iugoslavia, durante a década de 1990. Agora, eles vivem num mundo futurista, em meio a novos conflitos e conspirações que são o combustível de uma narrativa pessoal e instigante, ligada às suas terríveis lembranças do passsado. Nike, o personagem principal, tem uma notável habilidade de rememorar, detalhadamente, todos os dias de sua vida. Ao longo da HQ, ele consegue se lembrar dos primeiros dias de vida, da ausência de seus pais e da terrível presença da guerra se desenrolando a seu redor e ao lado de Leyla e Amir, seus amigos de berço, vivendo na Sarajevo de 1993. A memória, representada de diferentes formas ao longo da história, torna-se elemento central do roteiro, unindo a trajetória das três personagens em um futuro sombrio e impiedoso. Paralelamente a este quadro, surge um personagem misterioso, desumano e inumano: o próprio “Monstro”, do qual fala o título do álbum. Lançamento primoroso da Nemo, Tetralogia Monstro tem inacreditáveis 272 páginas, formato de 24 x 32 cm e chega em capa dura, impresso em papel especial, de um jeito que os fãs nacionais de quadrinhos nunca estiveram acostumados, mas que vão adorar. É a incrível Nemo, indo aonde nenhuma editora jamais esteve, neste país. Eu, que acompanhei a trajetória de editoras como Bruguera, Cedibra, Vecchi e Meribérica, empresas que se dedicaram ao segmento europeu de quadrinhos, nunca vi nada igual. Meus parabéns aos amigos Arnaud Vin e Wellington Srbek, cabeças pensantes da Nemo, pelo belíssimo trabalho! Às vezes, não dá para acreditar que tais publicações estejam desembarcado no Brasil, apresentando a mesma qualidade de seus originais importados e um preço absurdamente acessível.