O mercado de quadrinhos europeus, antes quase que inexistente no Brasil, anda experimentando um boom sem precedentes. Parece que alguns editores, finalmente, se rederam à qualidade de desenho e alto nível das narrativas de HQs produzidas no Velho Continente. Não apenas um, mas vários selos editoriais passaram a colocar nas livrarias do país, luxuosos álbuns em capa dura, de extrema qualidade gráfica. Entre a empresas nacionais que estão se destacando neste segmento está a minera editora Nemo. Com suas publicações que incluem obras de Hugo Pratt, Moebius, Jacques Tardi e Bilal, a Nemo está mostrando que é possível apresentar ideias diferentes ao público e tentar mudar a cabeça dos leitores, habituados a outros formatos. É justamente do último autor que citamos acima, Enki Bilal, que chega Animal’Z. Depois de ter lançado a Trilogia Nikopol, com icônicos títulos do artista, é chegada a hora de conhecermos mais uma aventura futurista de Bilal, traduzida por Fernando Scheibe. Na trama de Anima’Z, um desastre ecológico altera as condições climáticas do planeta, desestabilizando a ordem social. “Golpe de Sangue” é o nome dado a esse fenômeno natural que assola o equilíbrio terrestre. São catástrofes que deixam o planeta azul totalmente desorientado, devastado equase irreconhecível. Os poucos humanos que sobrevivem resistem em lugares improváveis, verdadeiros refúgios preservados destes trágicos acontecimentos. A água potável torna-se um raro tesouro, e, muitas vezes, valerá mais que uma vida humana. Qualquer semelhança com os dias de hoje é mera coincidência! Nesta época marcada pela violência e visivelmente caracterizada pela expressão “olho por olho, dente por dente”, criaturas híbridas de homens e animais, resultados das experiências de um inescrupuloso cientista, usam suas habilidades inumanas para chegarem às poucas áreas intocadas por este pesadelo ambiental. Com seus dispositivos de mutação acopláveis à coluna vertebral, eles conseguem se transformar em animais que disoes de recursos para contornar os novos obstáculos impostos pela natureza revolta. As comunicações são irregulares, os transportes terrestres são perigosos e os aéreos, raros. O melhor meio de se chegar aos possíveis novos eldorados é pelo mar, pelo o Estreito 17. É aí que a história começa. Nesse faroeste futurista e hostil, Enki Bilal constrói um mundo pós-apocalíptico surpreendente. Inteiramente feito a lápis e pastel, coberto com um pouco de branco e vermelho, o álbum propõe um retorno a uma técnica mais solta e espontânea, o que dá às pranchas uma presença mineral enevoada de azul e cinza. Tudo em perfeita harmonia com o universo marítimo de Animal’Z, sempre oscilando entre a amargura e a poética. Apesar da aparência pálida e cadavérica dos personagens desta narrativa, trata-se de uma história viva que serve de alerta para que o ser humano tenha mais cuidado com o meio ambiente que o cerca e do qual é dependente. Em relação ao criador de Animal’Z, Enki Bilal nasceu na Iugoslávia em 1951. Sua infância belgradina, sob o reinado de Tito, será determinante para sua tonalidade gráfica costumeira e os temas geopolíticos que desenvolve em seus quadrinhos adultos. Entre seus sucessos anteriores, publicados por outras editoras, estão: Memórias de Além Espaço, A Feira dos Imortais, A Mulher Armadilha, O Cruzeiro dos Esquecidos, A Caçada, O Navio de Pedra, As Falanges da Ordem Negra, A Cidade que não existia e O Exterminador 17. Enki Bilal fez também três filmes, sendo o último, Immortel (Ad Vitam), uma livre “desconstrução” de A Trilogia Nikopol. Este Animal’Z da Nemo tem 104 páginas, formato de 24 x 32 cm e custa R$ 54,00. Ele tem o mesmo padrão de impressão da versão portuguesa, realizadas pela ASA, e da edição original em francês, publicada pela belga Casterman. A seguir, veja a sétima página do livro. A imagem foi divulgada pela Nemo.
Por PH, segundo texto fornecido pelo editor. 
