Quadrinhos

“Rastreadores da Taça Perdida: O Segredo da Jules Rimet”, de Giorgio Cappelli, é quadrinho nacional com estilo de BD franco-belga!

Escrito por PH

MattttttEm um dia frio do mês de setembro, eis que dou de cara com uma HQ de meu amigo Giorgio Cappelli, que poderia ser tranquilamente produzida em países como França e Bélgica. Conheço a paixão que o artista nutre pela banda desenhada, mas confesso que não imaginava que pudesse reproduzir tão bem este espírito que encontramos apenas na Nona Arte. É que os nossos colegas do Velho Continente ainda fazem um tipo de trabalho que quase não existe no mercado brasileiro dos “gibis”. Eles valorizam o gênero aventura, com alguns belos toques de humor. Em nosso país, há alternância entre títulos de super-heróis e dos chamados “quadrinhos cabeça”, bastante intelectualizados. Não existem similares, em narrativa e traço, para Asterix, Lucky Luke, Tintin e Spirou, personagens que ocupam uma grande fatia do segmento juvenil/adulto europeu.

Foi com muita satisfação que tive contato com a versão em PDF desta publicação, o que já me despertou uma vontade incrível de possuí-la em seu formato de álbum em capa dura. Quando olhamos para um trabalho assim, é o que nos vem à cabeça, assim como já aconteceu com Aú, O Capoeirista, de autoria do grande Flávio Luiz.

Rastreadores da Taça Perdida: O Segredo da Jules Rimet é uma BD típica, lançamento da Bila Edições, adaptada para a realidade de nosso país. Traz um pouco de história contemporânea e de futebol, ao resgatar, com muita liberdade, o verídico caso do roubo da Taça do Tri, ganha em 1970 por nossa seleção.

Com texto e desenhos de Cappelli e cores de Enéas Ribeiro Corrêa, o quadrinho nos apresenta ao herói Vini Del Toro, famoso playboy aventureiro, caçador de objetos raros para colecionadores e de bandidos procurados, entre outros, e a seu sócio Giovanni, bem mais esperto do que seu fortão amigo. Depois de uma rápida e cômica passagem pela selva, onde são perseguidos por nativos furiosos, voltam à cidade grande, onde Vini descobre que está completamente falido, já que suas ações na bolsa despencaram. Por sorte, são contatados pelo Senador Daguerre. O político fala do roubo da Taça Jules Rimet, em 1983, e de como ela teria sido derretida e sumido para sempre. Pelo menos, é o que dizem! A verdade é que este evaporado tesouro esportivo poderia ser apenas uma réplica e que a verdadeira taça ainda existiria. Caso fosse encontrada, o fato seria uma ótima oportunidade para impulsionar a campanha de Daguerre a governador. Para a dupla, quebrada financeiramente, estaria aí a chance de ver algum trocado entrando para o caixa. Em busca de seu objetivo, estes dois provocarão o caos, passando pelas imediações do Museu do Futebol, pela Estação da Luz e por Aracaju, ainda encontrando uma falsa cidade perdida, cenário abandonado de uma antiga produção do cinema americano. Depois, irão para Ponta Grossa, no Paraná. Tudo é muito bem desenhado e colorido, com aquele jeitão de Spirou, como se fosse mesmo uma legítima BD franco-belga.

Em relação ao texto, este me remeteu ao filme L’Homme de Rio, de 1964, com Jean-Paul Belmondo no papel principal, película que teria inspirado Steven Spielberg a desenvolver sua emblemática saga de Indiana Jones. Neste longa, Belmondo passa pelo Rio e Brasília, indo parar na Floresta Amazônica, em busca de uma estatueta da antiga civilização malteca, levada misteriosamente do Musée de l’Homme, em Paris. Talvez, não seja por acaso que parte do próprio título da HQ, Rastreadores da Taça Perdida, faça referência explícita ao primeiro filme do icônico Indiana, Caçadores da Arca Perdida! Boa sacada do autor!

A próxima sessão de lançamento da HQ será dia 12, na Praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Começa a partir das 16h na GIBITERIA.

Parabéns a Giorgio e a Enéas pela excelente obra, digna de ser editada lá fora! Precisamos muito de edições assim!

Por PH.

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Sobre o Autor

PH

É ex-locutor do TOP TV da Record e radialista. Também produz a série Caçador de Coleções e coleciona HQs europeias, nacionais e quadrinhos underground

2 Comentários

  • Obrigado pelo texto, PH Tujaviu! Dá gosto de ler alguém que entende do riscado escrever sobre quadrinhos. A BIla, de fato, está investindo no nicho de quadrinhos de humor e aventura, abandonado há tempos aqui no Brasil. Vamos fazer isso mudar! Abraços!

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