Entre o final de maio e o começo de junho de 2015, uma leitura rica e interessante me fez companhia em trajetos pelo metrô carioca. Trata-se de O Árabe do Futuro – Uma juventude no Oriente Médio (1978-1984), graphic novel do cineasta e escritor Riad Sattouf. A publicação corresponde ao primeiro volume da autobiografia de Sattouf. Fenômeno na França, teve mais de 90 mil exemplares vendidos na terra do Asterix, no início do mês fevereiro, além de ter ganho o prêmio principal da 42ª edição do Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême.
A história é narrada pelo ainda pequeno Riad, uma criança de cabelos louros e filho de mãe francesa, que vê sua família peregrinar entre a França e o Oriente Médio, passando primeiramente pela Líbia do Coronel Muamar Kadafi, controverso líder que passou 42 anos no poder e que só foi deposto em 2011. Entre as esquisitas leis que promulgou, extinguiu o direito à propriedade particular de residências. Assim, uma pessoa só seria dona de uma casa, enquanto estivesse dentro dela. Caso deixasse o lugar, outro poderia se instalar e fazer dali o seu lar, já que a colocação de cadeados em portas era estritamente proibida.
Depois de passar pela terra de Kadafi e encarar o caos que por lá reinava, todos regressam à Paris, mas não passam muito tempo no continente europeu. Abdel- Razak, o pai de Riad, consegue um emprego de professor universitário em sua nação de origem, a Síria, e leva seu clã para esse país. Na época, era governada por Hafez al-Assad, ditador que possuía retratos espalhavam por todas as partes. A estada não será nada fácil para Riad e seus pais! O choque cultural é enorme e, apesar da Síria ser o local de nascença do progenitor de Riad, uma volta à França poderá estar nos planos da família. Será definitiva?
O Árabe do Futuro – Uma juventude no Oriente Médio (1978-1984) é uma aula sobre o Oriente Médio islâmico e suas profundas diferenças em relação ao Ocidente cristão. Tudo é visto, a partir do ponto de vista de um menino criado na França socialista de Mitterand. A leitura poderá ajudar a compreender o “Apartheid” social vivido pela França, atualmente, incapaz de lidar com a cultura e religião dos descendentes de suas ex-colônias, povo que tenta se integrar à sociedade local, mas que não se sente francês. Graças à HQ, o leitor tem acesso a detalhes do mundo muçulmano que seriam difíceis de serem encontrados em livros, internet ou revistas. Em tempos de atentados terroristas sangrentos e num momento em que o Estado Islâmico se expande, O Árabe do Futuro traz um pouco de luz a quem procura entender todo esse processo.
O quadrinho, basicamente, apresenta pranchas nas cores rosa, azul e amarelo e o traço de seus personagens é extremamente simples, num estilo que poderia se situar entre Matt Groening (Os Simpsons) e Laerte (Carol). O Árabe do Futuro tem 160 páginas, capa em brochura, marca da Editora Intrínseca e preço de R$ 39,90. Está à venda nas melhores livrarias. Na França, já saiu o volume 2 da série, compreendendo o período da existência Riad, vivido entre 1984 e 1985.
Em relação ao autor, o franco-sírio Riad Sattouf nasceu, em 1978, em Paris. Durante nove anos, desenhou La vie Secrète des Jeunes para o Charlie Hebdo. Em 2014, deixou o jornal e integrou a equipe de Le Nouvel Obs, onde a cada semana é o autor de Les cahiers d’Esther.
Quadrinho é cultura! Leia sem moderação!
Imagens: Allary Eds / Intrínseca / Riad Sattouf.
Belíssima ilustração um presente para seus leitores, fiquei mto interessada obrigada.